Escritos de Keke (foto), mãe do ditador russo, recém-encontrados na Geórgia dão detalhes do “filho delicado”, sensível e chorão. que se tornaria um monstro
Hoje, 17 de outubro, completam-se exatos 90 anos da Revolução Russa, comandada por Lênin e Trotsky, e conspurcada pelo assassino em massa Josef Stalin.
Além dos autores clássicos para se entender aquele complexo período histórico – como Victor Serge, John Reed, Isaac Deutscher e o próprio Trotstky – importa também conhecer o perfil psicológico dos componentes daquela revolução.
Aliás, isto é uma lição do velho Leon Tolstoi, que nos ensinou: para você ter uma idéia mais precisa de determinado fato histórico, é bom refazer a história particular de cada um de seus sujeitos.
Mais de 50 anos depois da morte de Josef Stalin, as memórias até então desconhecidas de sua mãe foram encontradas num antigo arquivo secreto soviético em seu Estado natal, a Geórgia. Elas retratam a infância de um menino sensível que se tornaria um dos maiores monstros do século 20.
O ditador soviético nasceu em 1878 (e não em 1879, como ele posteriormente afirmou), filho único de um sapateiro e uma costureira, Beso e Ekaterina “Keke” Djugashvili. Em suas memórias, Keke revela que, depois de ter perdido dois bebês, ela via Soso - diminutivo de Josef - como um milagre.
Keke detalha as doenças que o deixaram parcialmente incapacitado, e a sombra em que ele viveu como filho de um alcoólatra brutal. Inicialmente um sapateiro bem-sucedido, Beso "não conseguia parar de beber", afirma ela. "Um bom homem de família foi destruído... suas mãos começaram a tremer e ele não conseguia costurar sapatos."
"Meu Soso era uma criança muito delicada", relata Keke. "Mal ouvia o som da cantoria de seu pai vinda da rua, ele imediatamente corria para mim pedindo para ficar esperando na casa de nossos vizinhos até o pai cair no sono."
As memórias de Keke foram liberadas pelo presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, de um arquivo até então fechado. A abertura do arquivo foi feita a pedido do jornalista e historiador britânico Simon Sebag Montefiore, cujo novo livro, Young Stalin (Jovem Stalin), acaba de ser lançado na Grã-Bretanha.
Keke era renomadamente bonita quando jovem, e há um quê de travessura vulgar nas memórias. Ela e sua mãe ensinaram o menino a andar explorando seu amor por flores: Keke segurava uma camomila e Soso corria para agarrá-la. Certa vez, quando sua mãe o atraiu com uma flor, Keke jovialmente puxou para fora seus seios e os mostrou para a criança, que ignorou a flor e disparou para o peito materno. Ela diz que abotoou rapidamente sua roupa depois que um inquilino bêbado que espiava a cena caiu na gargalhada.
Keke lança pouca luz sobre rumores, às vezes encorajados por Stalin, de que na verdade ele era filho de um outro homem - além de dizer, inocentemente talvez, que um dos supostos pais, um rico comerciante e campeão local de luta livre, "sempre tentou nos ajudar na criação de nossa família".
Ela escreve sobre seus esforços para ajudar o filho inteligente a ganhar uma bolsa para um seminário na capital georgiana, Tiflis (hoje Tbilisi), para se tornar seminarista. No trem para Tiflis - onde seu pai, separado de sua mãe, estava trabalhando -, o menino de repente começou a chorar. "Mamãe", ele soluçava, "e se, quando nós chegarmos à cidade, o pai me encontra e me obriga a ser um sapateiro? Eu quero estudar. Prefiro me matar a virar um sapateiro."
"Eu o beijei", recorda Keke, "e enxuguei suas lágrimas." Ela lembra que disse ao filho: "Ninguém vai impedi-lo de estudar, ninguém vai afastar você de mim."
Poucos anos depois, porém, ele se rebelou contra as autoridades da escola e se declarou um revolucionário que desejava a queda do czar. Keke tomou o trem para Tiflis mais de uma vez para tentar salvá-lo da expulsão.
"Ele ficou zangado comigo" pela primeira vez, conta a mãe de Stalin. "Ele gritou que aquilo não era da minha conta. Eu disse: “Meu filho, você é meu único filho, não me mate... como conseguirá derrotar o imperador Nicolau II? Deixe isso para os que têm irmãos e irmãs". Soso a acalmou e a abraçou, dizendo-lhe que não era um rebelde. "Foi sua primeira mentira."
Quando, anos mais tarde, seu filho se tornou ditador soviético, ela não quis mudar-se para Moscou para juntar-se a ele no Kremlin e continuou vivendo num pequeno apartamento na Geórgia até sua morte, em 1937.
Stalin nunca soube que ela havia escrito as memórias. Ele provavelmente teria se enfurecido com elas. Ficava ultrajado quando ela era ocasionalmente entrevistada por jornalistas soviéticos. Nos arquivos, Montefiore encontrou esta ordem para o Politburo: "Peço que vocês proíbam o lixo filisteu que se infiltrou em nossa imprensa de publicar novas “entrevistas” com minha mãe e qualquer outra publicidade grosseira. Poupem-me do sensacionalismo desses patifes!"
Na foto abaixo, com seus colegas de escola na sua cidade natal Gori, na Geórgia, Stalin é o segundo em pé, da esquerda para a direita.
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