quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Os últimos dias de Noel Rosa


Fã chora sobre o monumento a Noel Rosa, no Rio
(foto sem identificação de data)
Embora casado – mas, mesmo assim envolvendo-se em variados romances com mulheres da vida noturna – Noel Rosa não teve filhos. Entregava-se com volúpia à boemia.
Evitava se alimentar em público. O defeito de sua face o obrigava a movimentos do maxilar que ele considerava vergonhosos. A mastigação causava-lhe dores. Quando muito, ingeria caldos ou sopas ralas. Mas fumava e bebia em abundância. Isto lhe corroeu a saúde.
Seu médico determinou uma temporada de recuperação por vários meses em Belo Horizonte. Ao retornar para o Rio, retomou a mesma vida sem regras.
Em janeiro de 1937, Noel e sua mulher Lindaura seguiram para Nova Friburgo, em busca do ar puro da serra fluminense. Passados 20 dias na esperança de uma recuperação dos pulmões, tudo o que Noel conseguiu foi um doloroso reumatismo, causado pelo frio.
De volta à sua casa, raramente saía. Passava os dias esticado sobre uma espreguiçadeira, entre almofadas.
No Carnaval daquele ano, deu um pequeno passeio pela Avenida Rio Branco, porém voltou para casa fatigado, desanimado.
Já no fim de abril, foi aconselhado por amigos a retirar-se para a cidade de Piraí. Não poderiam ter indicado lugar pior para seu estado de saúde...
No pequeno hotel onde ficara, Noel compôs suas duas últimas obras: “Mas quem lhe deu tudo isso?”, um samba considerado incompleto, e a embolada “Chuva de Vento”, datada de 29/04/1937 – cinco dias antes de sua morte.
O dia 1º de maio, um sábado ensolarado, encontrou Noel em melhor estado de espírito. Quis passear na represa existente em Piraí. Lá, foi colhido por fortes rajadas de vento frio. Sobreveio-lhe a febre. De volta ao hotel, foi acometido pela hemoptise. A tuberculose preparava o seu ataque final...
Dia 4 de maio de 1937. Noel estava de volta à sua residência, na Rua Teodoro da Silva, nº 30. Em uma casa próxima, festejava-se um aniversário. O som da festa chegava até o quarto do doente. Sem saber do estado do Poeta da Vila, os participantes da comemoração cantavam músicas de Noel.
Eram cerca de 21h30 quando dona Marta, mãe de Noel, e sua mulher Lindaura despediam-se de visitantes. Na cabeceira de Noel, seu irmão Hélio viu que ele abriu os olhos em delírio.
- Está sentindo alguma coisa, Noel? – perguntou Hélio.
- Estou muito mal. Quero virar para o outro lado...
Hélio atendeu Noel. Ao esticar um braço, sua mão foi parar sobre uma mesinha de cabeceira. Acometido por uma contração de nervos, a mão ficou batendo sobre o tampo, como obedecendo a um ritmo esmorecente...
Noel tinha então 26 anos e cinco meses de vida. Deixou 233 músicas registradas em disco, e várias inéditas.

Nenhum comentário: