sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O alemão que compunha marcha-rancho

O violonista Baden Powell e o poeta Vinícius de Moraes se conheceram em 1962, em um boteco do Rio de Janeiro. Não começaram compor logo nos primeiros encontros. Passavam noites afora conversando, como a medirem-se.
E, logicamente, consumiam quantidades industriais de whisky.
Numa destas madrugadas, Vinícius chega para Baden, e conta-lhe que fez uma letra para a Cantata 147, a famosa Jesus Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach.
- Rapaz, ficou uma marcha-rancho muito bonitinha! – confessou Vinícius.
- Como é? Marcha-rancho em música de Bach? – estranhou Baden.
O mago do violão olhou para o copo na mão do poeta, e ao ver uma garrafa pela metade ao lado de outra já vazia, resolveu não mais debater com o colega.
- Achei sinceramente que ele estava com o juízo alterado pela bebida – contou Baden, em um show dele que fui assistir no Teatro Mambembe, na avenida Domingos de Moraes, no ano de 1990. – Mas quando ouvi a gravação pronta – prossegue Baden – vi que realmente Vinícius tinha captado um balanço naquele compositor clássico que cabia direitinho na marcha-rancho.

Infelizmente não tenho como postar por enquanto a interpretação do Baden Powell para esta cantata.
Mas você encontra várias versões dela em muitos sites. Siga a melodia, e cante com a letra do Vinícius:

Rancho das Flores

Vinícius de Moraes

Entre as prendas com que a natureza

Alegrou este mundo onde há tanta tristeza

A beleza das flores realça em primeiro lugar

É um milagre do aroma florido

Mais lindo que todas as graças do céu

E até mesmo do mar

Olhem bem para a rosa

Não há mais formosa

É flor dos amantes

É rosa-mulher

Que em perfume e em nobreza

Vem antes do cravo,

E do lírio, e da hortência,

E da dália, e do bom crisântemo,

E até mesmo do puro e gentil malmequer

E reparem no cravo o escravo da rosa

Que é flor mais cheirosa

De enfeite sutil

E no lírio que causa o delírio da rosa

O martírio da alma da rosa

Que é a flor mais vaidosa e mais prosa

Entre as flores do nosso Brasil

Abram alas pra dália garbosa

Da cor mais vistosa

Do grande jardim da existência das flores

Tão cheias de cores gentis

E também para a
hortência inocente

A flor mais contente

No azul do seu corpo macio e feliz

Satisfeita da vida

Vem a margarida

Que é a flor preferida dos que têm paixão

E agora é a vez da papoula vermelha

A que dá tanto mel pras abelhas

E alegra este mundo tão triste

No amor que é o meu coração


E agora que temos o bom crisântemo

Seu nome cantemos em verso e em prosa

Porém que não tem a beleza da rosa

Que uma rosa não é só uma flor

Uma rosa é uma rosa, é uma rosa

É a mulher rescendendo de amor

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