quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Recuerdos da brava mineira de Cochabamba

Recebi o convite de formatura da 3ª turma de promotoras legais populares de Taboão da Serra. Entre as formandas, uma de nome Domitília me faz lembrar da mais importante leitura que já fiz quanto aos direitos das mulheres.
Eu tinha exatos 20 anos, quando comprei numa livraria ao lado da antiga rodoviária Julio Prestes a obra Si me permiten hablar... Naquele 1977, faltando ainda 8 anos pra ditadura militar brasileira entregar os pontos, era uma aventura comprar este tipo de livro.
Recomendo a todos que se metem a falar em direitos femininos, que leiam primeiro a história de Domitila Barrios Chungara. E sua trepidante intervenção na Tribuna do Ano Internacional da Mulher, organizada pela ONU em 1975 no México. Domitila era a única mulher da classe trabalhadora ali presente.
Mulher de um operário das minas de Cochabamba, na Bolívia, Domitila falou da desumana condição de vida de sua pátria. A representante da delegação do México desdenhou: “Falaremos de nós, senhora... Nós somos mulheres. Olhe senhora, esqueça-se do sofrimento do seu povo. Por um momento, esqueça-se dos massacres. Já falamos bastante disto. Já a ouvimos bastante. Falaremos de nós... da senhora e de mim... da mulher, pois."
A humilde e valorosa filha dos altiplanos retumbou: "Muito bem, falaremos das duas. Mas, se me permite falar...” e Domitila (na foto à esq) esmagou a mexicana pedante, ao expor toda a miséria e violência que se abate sobre suas hermanas. E arremata com palavras escritas com lava de vulcão: “Então, de qual igualdade entre nós vamos falar? Se a senhora e eu não nos parecemos, se somos tão diferentes? Nós não podemos, neste momento, ser iguais, ainda como mulheres, não lhe parece?"
Domitila narrou sua saga para a brasileira gaúcha (de Caxias do Sul) Moema Libera Viezzer, doutora em Sociologia, mestra especializada em Gênero e Meio Ambiente, e fundadora da Rede Mulher de Educação.

A idéia de implantar o projeto de promotoras legais populares no Brasil, surgiu em 1992, durante um seminário latino americano, com base em experiências do Peru, Argentina e Chile. O trabalho pioneiro no país foi do Grupo Thêmis, de Porto Alegre (RS). Em São Paulo, a iniciativa chegou em 1994.
Clique sobre o convite para ler o nome das formandas, e detalhes da festa.

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