quinta-feira, 10 de abril de 2008

A verdade sobre VERDE

Por Ary Marcos

Era o ano de 1984, quando a Globo anunciou o Festival Shell de Música Popular Brasileira. Lula Barbosa e Eduardo Gudin já se conheciam há algum tempo, já eram parceiros.
Naquele ano Lula Barbosa tocava no Boca Da Noite, no Bixiga, do qual Eduardo Gudin era sócio. Numa daquelas conversas de fim de noite, resolvem inscrever no festival suas músicas. Gudin inscrevería a canção intitulada Verde, dele e José Carlos da Costa Neto, e Lula Barbosa entraría com Mira Ira, em parceria com Vanderlei de Castro. Alguns dias antes de gravarem a fita para a inscrição, Eduardo Gudin teve a seguinte idéia:
- Lula, por que você não grava Verde, e põe a [cantora ]Miriam Mirah (à esquerda) [na época pertencente ao Grupo Tarancón] para gravar Mira Ira?
Isso, na intuição do Gudin, aumentaría a chance de uma das duas ser classificada. Havia uma razão para que o Gudin pensasse assim. Quando mostrou a música para Lula Barbosa, muito tempo antes do festival, Lula se apaixonou pela música, e incorporou-a literalmente. Passou a tocá-la todas as noites, e chegou até a me confessar um dia, que era a música que gostaría de ter feito. Gudin ficava maravilhado a cada interpretação, era difícil dissociar Verde do intérprete.
Da mesma forma, a cantora Miriam Mirah havia grudado Mira Ira em sua garganta; ao cantá-la, parecia uma índia guerreira indo para as matas em busca da caça.
Eis que chega a notícia: Verde e Mira Ira estavam classificadas. Euforia total, mas... e agora? Lula Barbosa não poderia defender as duas canções. E muito menos disputar o festival com Verde, já que era o autor da outra canção classificada; o regulamento não permitia.
O diretor musical do festival era César Camargo Mariano, que propôs o seguinte: Lula Barbosa juntamente com Miriam Mirah defendería sua composição. E sugeriu que se trouxesse de Belém do Pará uma moça que estava arrebentando por lá, para interpretar Verde. Esta moça chama-se Leila Pinheiro (veja no vídeo abaixo Leila na finalíssima do festival).
O resto da história já se sabe. Por uma questãode gosto muito particular de uns integrantes do júri, venceu a música Escrito nas Estrelas. Mas, o restante do júri, para fazer prevalecer o que não estava escrito, premiou Mira Ira com o segundo lugar e melhor arranjo do festival. Para a belíssima Verde aplicaram um ruidoso 3º lugar. Isto causou irritação total na platéia, pois as duas músicas eram as preferidas do público e de boa parte do júri.
Digo isso porque eu estava lá. Acompanhei passo a passo todo o processo de montagem do festival; fui a todos os ensaios, senti a reação dos músicos e de todos os participantes do festival, indo nos ensaios e sentindo a reação dos músicos e de todos os participantes daquela sadia disputa musical.
O mais importante é que Mira Ira e Verde até hoje são lembradas e tocadas, ao passo que Milionários... ops!, Escrito nas Estrelas [música de Arnaldo Black com letra de Carlos Rennó] caiu no esquecimento.

Lula Barbosa, Miriam Mirah e Grupo Tarancón cantam MIRA IRA


Leila Pinheiro canta VERDE


Ary Marcos Pero Gonçalves da Motta é soldado do Samba, e produtor do Projeto Refúgio do Sambista. Contato: arymarcosmotta@yahoo.com.br

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