Se você tem a santa mania de “tomar uma” antes do almoço ou jantar, não consegue passar sem “aquela pra abrir o apetite”, não sinta culpa sozinha. Se, quando criança tomavas Biotônico Fontoura, relaxe: foi tua mãe quem botou o álcool no teu caminho.
Este estimulante do apetite foi inventado pelo farmacêutico
Cândido Fontoura Silveira, nascido em Bragança Paulista a 14 de maio de 1885 —
morreu em 5 de março de 1974.
Por volta de 1910, a esposa do seu Cândido andava meio mole,
não queria saber de comer, nem namorar, nem nada. O homem fechou-se no
laboratório, misturou sulfato ferroso com ácido fosfórico, espremeu folhas de
plantas tônicas e aromáticas, fez uma mistureba danada, e deixou descansar no
tubo de ensaio.
Conhecedor das espertezas das entranhas humanas, sapecou 9,5%
de álcool no xaropinho da patroa. A dona passou a comer feito leoa.
Durante quase um século as mães brasileiras enfiaram
Biotônico Fontoura nos seus filhinhos. E nem desconfiavam por quê a molecada
ficava acesa quando tomava umas colherinhas a mais.
Pra transformar o fortificante em mania nacional, o
farmacêutico contou com a ajuda do seu amigo Monteiro Lobato. Além de gênio das
letras, Lobato tinha faro comercial infalível. Inventou o nome do remédio, e
criou um almanaque, publicado e distribuído pelo Laboratório Fontoura. Contava
a história de Jeca Tatu que mudava de vida ao tomar Biotônico. Começaram com 50
mil exemplares, e chegaram à tiragem de 3 milhões!
O caldo começou a entornar pro lado do seu Fontoura quando
um grupo de pesquisadores constatou o ingresso precoce de crianças no
alcoolismo por fatores culturais na região de Flores da Cunha (RS). É hábito
dos colonos embeber pedaços de pão ou a chupeta no vinho e dar para seus
filhos. Uma deputada pegou o embalo, e convenceu a Assembleia Legislativa de
São Paulo que o Biotônico encaminhava criancinhas pro balcão do bar. Em março
de 2001 o Conselho Regional de Farmácia do Distrito Federal denunciou o
fabricante do Biotônico de manter no remédio elevado teor alcoólico.
Em abril de 2001 a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) exigiu que o fabricante eliminasse o álcool etílico da fórmula.
Julinho da Farmácia, dono de estabelecimento no Parque Pinheiros, Taboão da Serra, está no ramo há 43 anos. Ele conta a
loucura que era vender este elixir: “Comecei trabalhar em farmácia aos 12 anos
em Santa Mariana, no Paraná, onde nasci. O Biotônico Fontoura chegava em caixas
de madeira com 24 unidades, e o remédio nem ia pra prateleira. O povo comprava
tudo”. Hoje aos 55 anos, Julinho continua vendendo o antianêmico. “Tem muitos
concorrentes, mas o Biotônico Fontoura é imbatível”.
Só que, agora, sem pilequinho.
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