segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Entre botecos e pernas de freira

Se ainda não disse aqui neste balcão virtual sem nenhuma virtude, faço-o agora: Dom Pedro I é um dos meus super-heróis da História do Brasil. 
Suas andanças pelas tabernas cariocas, e suas aventuras de alcova no tempo em que era nosso Imperador, já são bem cantadas em verso e prosa.
Mas poucos sabem o que este sujeito inigualável aprontou numa ilhota, a caminho de Lisboa para cobrar uma bronca com seu irmão.
Primeiro, vê só a pinta do distinto ao deixar o Brasil rumo a Portugal: 
“Vestia uma sobrecasaca marrom e uma cartola elegante, traje próprio para um piquenique em Paquetá e, logo que se instalou a bordo, tomou da viola e tocou um miudinho, como se tudo mais não tivesse importância". (Isabel Lustosa, em D. Pedro I – Companhia das Letras, 2006).
Pedro I do Brasil saiu daqui na pindaíba. 
Bateu pernas por Paris e Londres em busca de patrocinador para a guerra que travaria contra seu irmão Miguel, que havia metido a mão no direito da filha de Pedro em reinar Portugal.
Enquanto não vinha a grana para comprar navios e contratar soldados, Pedro resolveu dar um tempo na Ilha Terceira, nos Açores. 
Ali, retomou seus hábitos das noites cariocas: disfarçado em uniforme de oficial, se enfiava pelos botequins. 
Mas já não bebia tanto como no Rio. 
Suas preocupações eram outras. 
Varava noites observando os boêmios, talvez pensando em quem contratar para suas forças armadas.
Em um belo dia de março de 1832, indo visitar o Convento da Esperança, Pedro botou os olhos numa freirinha devota de Santa Clara. 
A moça estava na sineira, abertura na parte superior da torre onde fica o sino.
Seu ímpeto mulherengo reacendeu na hora diante da formosíssima clarissa de 23 anos. 
E assim conheceu biblicamente a irmã Ana Augusta Peregrino Faleiro Toste. 
O romance durou cerca de três meses. Dom Pedro I zarpou da Ilha Terceira em 27 de junho de 1832.
Do relacionamento do rei com a religiosa nasceu Pedrinho. Mas o moleque morreu aos 4 a 5 anos. 
Nascida na Vila de São Sebastião em 1809, a escultural freira-amante Ana Augusta faleceu em 29 de maio de 1896, aos 87 anos.
Teve enterro digna de namorada real. 
Seu funeral saiu da Rua de Jesus nº. 87, ao som da Charanga do Batalhão de Voluntários da Rainha Dona Maria II.

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