Zé Carlos aprendeu a fazer esta iguaria em Ruy Barbosa, na Bahia, onde nasceu. “É um rango tão honesto, que já traz a sobremesa embutida”, diz o mestre-cuca improvisado.
O “Cortado” consiste em separar a parte branca da casca da melancia, cortá-la em cubinhos, e refogar com temperos à sua escolha. “Eu tenho a manha de tirar a casca da melancia em tiras, e deixar a bolotona vermelha dela inteirinha”, se vangloria Zé Carlos.
Engraçado foi o momento do Pezão anotar os ingredientes. Alho, cebola, pimenta do reino, caldo de carne, salsinha, cebolinha, colorau... Chegou num ponto, Zé Carlos ficou exigente:
- Pezão: tome muito cuidado. Você me escolha melancias com diâmetro de 75cm. A casca tem de estar muito lustrosa. As estrias verde-claras têm de estar bem nítidas sobre o fundo verde-escuro. Não me traga melancia desmaiada, com a barriga amarelenta.
Pezão encrespou:
- Êi, Zé, eu cresci no meio da plantação de melancia lá no Mato Grosso, em Castilho, rapá! Tá me tirando?
- Bom, onde você nasceu não interessa na receita do “Cortado”. Eu quero é Melancia Híbrida Top Gun.
- Topa quem?
- É Top Gun, meu chapa. Melancia Híbrida Top Gun. Não vá me trazer melancia Crimson Sweet.
Pezão explodiu:
- Por que você não vai se lascar? Os temperos eu compro. Agora, como você tá cheio de onda com o nome da melancia, você se vira. Vê lá se eu vou ficar no sacolão perguntando pra melancia como é o nome dela. Nunca vi melancia chamada Cremilda!
- Não é Cremilda, ô ignorante. É Crimson.
Daí o bate-boca ferveu. Eu me mandei de fininho, mas vou voltar lá domingo à tarde, pronto para saborear o tal “Cortado”.
No tempo dos faraós
O consumo da melancia pelo ser humano é antigo. Ela é originária da África. Nas pirâmides do Egito encontram-se inscrições (hieroglifos) mencionando esta fruta 2.500 anos antes de Cristo. Do Egito a melancia se enramou por toda a região do Mar Mediterrâneo. Dali até chegar à China e à Índia, foi um pulinho. Quando os árabes invadiram a Espanha no século 13, a melancia estava na tralha deles.
A melancia desembarcou na América na bagagem infeliz dos escravos africanos, a partir de 1600. Talvez sua cor alegre e sua doçura tenham ajudado a suavizar o cativeiro. Mas o nome da fruta só apareceu por escrito em 1796, no primeiro livro de culinária dos Estados Unidos, numa receita de picles de casca de melancia.
Haja melancia!
A melancia é a segunda fruta mais produzida no mundo (só perde para a banana). Em 2005 a humanidade devorou 96.396.945 toneladas de melancia.
A maior plantação de melancias é da China: 63,3 milhões de toneladas em 2004. De 1979 a 2004, a produção mundial de melancias aumentou 255%.
O Brasil é o 12º produtor de melancias no mundo, com cerca de um milhão e 720 mil toneladas por ano. Bahia, Rio Grande do Sul e São Paulo eram os maiores produtores até a década de 1990. Hoje o plantio se espalha por outros Estados, como o Tocantins que colhe 100 caminhões de melancias por dia.
A melancia leva de 80 a 90 dias da semeadura à colheita. No varejo em São Paulo, seu preço varia de R$ 0,47 a R$ 0,79 o quilo.
Família nutritiva
A melancia é “parenta” do melão, da abóbora, do pepino, do maxixe... Além do alto teor de água, ela é rica em açúcar, vitaminas do complexo B e sais minerais, como cálcio, fósforo e ferro. Cada 100 gramas de melancia contêm 31 calorias.
O suco das sementes de melancia é diurético, combate vermes, ácido úrico, e ajuda a limpar o estômago. A polpa auxilia na cura de infecções de pele, febres e infecções das vias urinárias. É recomendada para quem tem pressão alta, reumatismo ou gota.
O dia da melancia no Brasil é 26 de novembro, e foi comemorado no país pela primeira vez em 2006.
Melancia contra o desperdício
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) 35% da produção agrícola do país vão parar na lata do lixo. Apesar de ser um povo pobre, o brasileiro tem vergonha de consumir as folhas, os talos e as cascas de legumes e frutas. Cerca de 5,5 milhões de toneladas de hortaliças são jogadas fora por ano.
Com a melancia não é diferente: 30% da fruta (casca e sementes) não são aproveitados. Pratos como o “Cortado” sugerido pelo Zé Carlos, ajudam na guerra contra o desperdício. Abaixo, a foto da entrecasca de melancia refogada. Fica com a consistência e o sabor parecido ao chuchu. Zé Carlos vai festejar 42 anos com amigos, biritas e o "Cortado".
5 comentários:
Estaremos presente e espero aproveitar o ensejo para botarmos o papo em dia e na sequencia comemorar o Tri ou o Hexa ou seja lá como queira chamar.
Um grande abraço e até lá.!!!
M.Assunçao
Recomendo ao caro amigo tricolino a leitura atenta das páginas 4 e 5 da edição do dia 03/12/08 do Lance!
Abração, e até!
Beline, gerente do Bar do Binho, por e-mail:
"E ai David!
já ouvi muitas abobrinhas, mas melancias são mais interessantes, e deliciosas no seu bar, tá muito legal visitar bar e lanches.
um abraço do Belo"
Pois é, Belo!
E como o seu bar é famoso pela qualidade e variedade dos pastéis, só falta um (a) doido (a) inventar pastel de melancia!
é meu camarada, vou correr atrás desse jornal em alguma banca...
Cara tô rindo até agora, imaginando o "diálogo" desses 2. Minha Nossa Senhora...kkkkkkk.
To sabendo que vc esteve no Santo Paulo bar.... e não convidou os amigos....mais ta valendo...
M. Assunção
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