Uma história vulgar

Perguntei a Adelino Moreira como surgiu a inspiração para ele compor o samba-canção Flor do Meu Bairro. Esta música foi gravada por Nelson Gonçalves em 1961 em um disco de 78 rotações da RCA Victor – o lado B trazia a canção Timidez, do mesmo autor.
No mesmo ano de 1961 Nelson tornou a gravá-la em formato de LP – há outras quatro músicas de Adelino neste disco, inclusive a faixa-título Noite de Saudade.
Antes desta gravação, a dobradinha Adelino Moreira/Nelson Gonçalves já tinha emplacado vários sucessos como A Volta do Boêmio (1956), Escultura (1957), Deusa do Asfalto (1958) entre outras jóias da música brasileira nascidas das mãos do ourives Adelino Moreira de Castro.
“Esta música é sobre uma pretinha muito bonita, chamada Olinda, que morava lá em Cosme Velho [bairro instalado no sopé do morro do Corcovado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro]”, contou Adelino na entrevista que fizemos com ele em abril de 2001.
“Eu não a conheci pessoalmente. O ex-noivo dela me contou um pedaço da história em um bar, e o resto eu inventei”.
Cante com Nelson Gonçalves esta canção invulgar.

A flor do meu bairro

Tinha o lirismo da lua

Morava na minha rua

Num chalé fronteiro ao meu

Eu conheci o seu primeiro amor

A sua primeira dor

E o primeiro erro seu

Lembro-me ainda

O bairro inteiro sentiu

A flor ingênua sumiu

Com seu amor, o seu rei

E eu que era seu primeiro namorado

De tão triste e apaixonado

Nunca mais me enamorei

Hoje depois de alguns anos

Eu encontrei-me com ela

Na rua dos desenganos

Menos ingênua e mais bela

Ela fingindo desejo

A boca me ofereceu

E eu paguei por um beijo

Que no passado foi meu

A minha história é vulgar

Mas algo fica provado

Nem sempre o primeiro amor

É o primeiro namorado