sábado, 23 de maio de 2009

O honorable senhor Debret, tomando “uma”


Para registrar a si próprio durante o tempo em que morou no Brasil (de 1816 a 1831) o pintor francês Jean-Baptiste Debret fez esse auto-retrato em uma taberna.
A aquarela revela o estado de espírito do artista no ano do seu desembarque no Rio de Janeiro. A derrota de Napoleão Bonaparte deixou Debret desempregado. Pra piorar, a morte recente de seu filho Honoré de 19 anos o deixou arrasado. Como desgraça pouca é bobagem, ele havia se separado há pouco de sua mulher Sophie (alguns dizem que ela o abandonou).
A taberna carioca escolhida por Debret para seu auto-retrato é rústica, com decoração mínima de dois jarros e um cesto de vime contendo travessas. Jogado no chão, um garrafão com o gargalo quebrado, ao lado de um cacho de cocos-verdes.
As linhas do teto e do assoalho traçam uma perspectiva que agudiza o sentimento de solidão do único homem a beber ali. Debret está com o ombro arqueado sobre a mesa, com o olhar fito num ponto qualquer, a meditar. A tensão gerada pelas cores parece ecoar a tristeza e a melancolia.
O artista se coloca propositalmente no fundo do quadro, para acentuar seu estado de desolação. Além dele, só o pequeno degrau que conduz para trás do balcão, onde um homem negro prepara algo para o freguês. Uma banda da porta da rua meio que encobre o boêmio solitário.
(parece que este bar já vai fechar...)

Nenhum comentário: