Reportagem sobre uma cidade do norte do Paraná veiculada na manhã de hoje pela TV, me fez lembrar uma viagem que fiz àquela região há sete anos.
Primeiro a notícia: o delegado de Polícia de Ivaiporã (PR) fez um acôrdo com os presos para evitar fugas. Como não há carcereiro naquela delegacia, os próprios presos tomam conta das suas jaulas!
O nome Ivaiporã me lembrou Iporã, também no norte paranaense (sendo Iporã 120 km à frente) onde estive no Carnaval de 2002. O repórter da várzea Marco Pezão foi contratado pela Associação Atlética Paraná, na época patrocinada pelo Supermercado Rod-Raf, de Taboão da Serra, para fazer a matéria. E me intimou a ir junto.
A viagem de ida para mim foi um inferno. Pelos 847 quilômetros entre São Paulo e Iporã, os jogadores tocaram sem parar, numa repetição torturante, o maldito CD acústico que Bruno e Marrone haviam lançado meses antes. Eu ansiava chegar logo à cidadezinha de destino para limpar meus ouvidos com lindas guarânias, já que Iporã fica a 75 km da fronteira do Paraguai.
O que aconteceu em termos de futebol, foi registrado pelo Pezão. Quem não leu na época, é só pedir pra ele.
O que nos interessa aqui, no nosso boteco imaginário, é o que rolou por fora das quatro linhas.
Ficamos alojados ao lado do Santuário Santo Antonio de Iporã. O salão paroquial (à direita) foi transformado em refeitório. As senhoras católicas exigiam que jantássemos na hora da Ave-Maria. Logo descolei uma vasilha, e guardava meu rango para depois de carimbar os cotovelos nos balcões do lugarejo.
Na segunda noite em Iporã, Pezão e eu mudamos o roteiro etílico. Enveredamos por uma rua de terra; os chinelões afundavam no poeirão vermelho. Deparamos com uma cena de cinema. Em meio àquele terrão, um bar de limpeza absoluta. Por todo o estabelecimento, plantas verdíssimas, que a dona da bodega espanava amiúde, e limpava as folhas com pano úmido.
O chão de cimento queimado espelhava. Nem um mísero grão de poeira em lugar algum do balcão, mesas e prateleiras. “As senhoras católicas que nos perdoem, mas vamos jantar aqui esta noite”, decidimos.
A bebida desceu em doses industriais, enquanto a dona do botequim nos preparava colossais bifes de fígado acebolado, escoltados por salada suficiente pra alimentar uma manada.
Lá pela vigésima cerveja entremeada por marias-moles, meu amigo começou a olhar a proprietária do boteco com olhos de poeta. Dona Marília (dou-lhe o nome da sua cidade natal) percebeu o arroubo lírico do meu colega de copo e de cruz, e passou a servir-nos doses mais generosas. E confessou-nos ser muito solitária em seu leito de viúva. Pezão estava prestes a compor-lhe uma ode, um soneto, um madrigal, sei lá...
Foi quando a botequineira danou-se a nos contar sua recente cirurgia. Ante nosso olhar embasbacado, ali, de pé no meio do salão, ergueu singelamente sua blusa para mostrar a extensão do corte, que descia desde o pescoço até além do umbigo, terminando onde a saia - e o constrangimento - não nos deixava ver.
Até hoje Pezão não me perdoa quando lhe pergunto o que foi feito do poema pensado para a Dona Hérnia...
Primeiro a notícia: o delegado de Polícia de Ivaiporã (PR) fez um acôrdo com os presos para evitar fugas. Como não há carcereiro naquela delegacia, os próprios presos tomam conta das suas jaulas!
O nome Ivaiporã me lembrou Iporã, também no norte paranaense (sendo Iporã 120 km à frente) onde estive no Carnaval de 2002. O repórter da várzea Marco Pezão foi contratado pela Associação Atlética Paraná, na época patrocinada pelo Supermercado Rod-Raf, de Taboão da Serra, para fazer a matéria. E me intimou a ir junto.
A viagem de ida para mim foi um inferno. Pelos 847 quilômetros entre São Paulo e Iporã, os jogadores tocaram sem parar, numa repetição torturante, o maldito CD acústico que Bruno e Marrone haviam lançado meses antes. Eu ansiava chegar logo à cidadezinha de destino para limpar meus ouvidos com lindas guarânias, já que Iporã fica a 75 km da fronteira do Paraguai.
O que aconteceu em termos de futebol, foi registrado pelo Pezão. Quem não leu na época, é só pedir pra ele.
O que nos interessa aqui, no nosso boteco imaginário, é o que rolou por fora das quatro linhas.
Ficamos alojados ao lado do Santuário Santo Antonio de Iporã. O salão paroquial (à direita) foi transformado em refeitório. As senhoras católicas exigiam que jantássemos na hora da Ave-Maria. Logo descolei uma vasilha, e guardava meu rango para depois de carimbar os cotovelos nos balcões do lugarejo.
Na segunda noite em Iporã, Pezão e eu mudamos o roteiro etílico. Enveredamos por uma rua de terra; os chinelões afundavam no poeirão vermelho. Deparamos com uma cena de cinema. Em meio àquele terrão, um bar de limpeza absoluta. Por todo o estabelecimento, plantas verdíssimas, que a dona da bodega espanava amiúde, e limpava as folhas com pano úmido.
O chão de cimento queimado espelhava. Nem um mísero grão de poeira em lugar algum do balcão, mesas e prateleiras. “As senhoras católicas que nos perdoem, mas vamos jantar aqui esta noite”, decidimos.
A bebida desceu em doses industriais, enquanto a dona do botequim nos preparava colossais bifes de fígado acebolado, escoltados por salada suficiente pra alimentar uma manada.
Lá pela vigésima cerveja entremeada por marias-moles, meu amigo começou a olhar a proprietária do boteco com olhos de poeta. Dona Marília (dou-lhe o nome da sua cidade natal) percebeu o arroubo lírico do meu colega de copo e de cruz, e passou a servir-nos doses mais generosas. E confessou-nos ser muito solitária em seu leito de viúva. Pezão estava prestes a compor-lhe uma ode, um soneto, um madrigal, sei lá...
Foi quando a botequineira danou-se a nos contar sua recente cirurgia. Ante nosso olhar embasbacado, ali, de pé no meio do salão, ergueu singelamente sua blusa para mostrar a extensão do corte, que descia desde o pescoço até além do umbigo, terminando onde a saia - e o constrangimento - não nos deixava ver.
Até hoje Pezão não me perdoa quando lhe pergunto o que foi feito do poema pensado para a Dona Hérnia...
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