Sankt Olai Kirke (Igreja
Santo Olavo) - Foto: David da Silva - 22.jul.2009
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David da Silva
Quando
passei por Hjørring, no norte da Dinamarca, em julho último, visitei os
cemitérios que ficam dentro dos terrenos de duas igrejas locais.
O
município de Hjørring (pronuncia-se iôrrin) foi criado em 1243. Tem
apenas 25.071 habitantes, segundo o censo de 2014 (esta postagem foi atualizada em 02.nov.2018).
A
Igreja de Santo Olavo (em dinamarquês: Sankt
Olai Kirke) é totalmente rodeada de túmulos (gravsted).
Foi
a primeira igreja construída em Hjørring. Erguida por ordem do rei Magnus, que
governou a Dinamarca de 1042 a 1047, sua obra só foi concluída em 1559.
Em
1966, durante uma restauração, ao cavarem o piso descobriram debaixo desta
igreja de granito restos da igreja de madeira original.
Fiquei
triste ao saber que as paredes da nave e da capela-mor eram decoradas com
afrescos, mas durante as restaurações foram caiados de branco...
Detalhe das lápides que rodeiam a igreja - Foto: David da
Silva - 22.jul.2009
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A poucos metros da Sankt Olai, fica a Sankt Hans Kirke (Igreja de São João Batista) igualmente com kirkegård (cemitério) à sua volta.
Também
foi erguida no século 13. E também nas paredes e abóbodas foram encontrados
vestígios de afrescos que o tempo apagou...
Na
manhã em que percorri os túmulos desta igreja, os canteiros de flores eram
cuidados por uma mulher jovem. Aquela jardineira viking estava muito linda
debaixo das suas roupas rústicas levemente sujas de terra.
Por
sorte eu estava acompanhado do marinheiro aposentado sueco Ove Krook, que morou
muitos anos no Brasil, e serviu de intérprete no meu entendimento com aquela
escultura nórdica. O velho lobo do mar conduziu com perícia o vai-e-vem das frases minhas e da moça, até que as palavras deixaram de ser necessárias.
Sankt Hans Kirke (Igreja
de São João) - Foto: David da Silva - 22.jul.2009
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Os cemitérios que abraçam igrejas lá em Hjørring fazem parte do roteiro turístico da cidade. Tamanho zelo dá impressão que há concurso para escolher o cemitério mais bonito ali.
Enterros e
quebra-paus
No
Brasil, a prática de sepultar pessoas ao lado das igrejas foi proibida em 1801
por Dom João, então príncipe regente de Portugal. O rei alegou questões de
saúde pública.
Mas
o povão nem deu bola.
Os
enterros continuaram seguindo em direção aos templos.
Só
que no dia 1º de outubro de 1828 o governo imperial brasileiro deixou a cargo
das Câmaras Municipais a escolha dos locais de sepultamento. E onde vereador mete
o dedo, já viu, né...
Em
1836 os vereadores de Salvador, Bahia, proibiram funerais nas igrejas.
Pra
piorar, os sacanas entregaram o monopólio dos enterros para uma companhia
particular. O povo teria de levar seus mortos para o cemitério Campo Santo,
construído pela firma de papa-defuntos.
A
baianada se arretou.
Na
manhã de 25 de outubro de 1836 os sinos de várias igrejas de Salvador começaram
a tocar ao mesmo tempo.
Era
a senha para o povaréu se reunir no Terreiro de Jesus, defronte à igreja de São
Domingos. Cerca de três mil pessoas armadas com machados, alavancas e outros
ferros gritaram:
–
Morra o cemitério!!!
Dali
marcharam para a Praça do Palácio, hoje Praça Municipal.
As
autoridades se mijaram de medo, e suspenderam até 7 de novembro daquele ano a
proibição de enterrar mortos nas igrejas.
Mas
a galera estava com sangue nos olhos.
Partiram
pra cima do Campo Santo, derrubaram o muro do cemitério, botaram abaixo a
capela do lugar, e seguiram demolindo tudo o que achavam pela frente. O
escritório da funerária foi apedrejado e queimado.
O
povo estava tão emputecido que até a polícia amoitou.
Esta
rebelião entrou para a história do Brasil como "A Cemiterada".
Um comentário:
Depois de um tempao sem passar por aqui por falta de tempo, coloquei hoje a leitura em dia. Adorei ler os últimos artigos sobre sua visita 'a Scandinavia.
Beijos com carinho,
Jussanam
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