Pernambucano do município de Paulista, Marcão é eletricista de primeira linha. Ele e eu temos uma amizade de altíssima voltagem.
Agora Marcão tá lá enfurnado em sua casa, embiocado no quarto pra nem sentir cheiro de fumaça ou manguaça. Deve estar feito uma jararaca amarrada pelo rabo. Vou ficar um bom tempo sem poder cantar com ele pelos butecos uma daquelas boas do Adelino Moreira gravadas pelo Nelson Gonçalves.
Daí que me bateu na cachola a constatação. Em cada botequim onde calejei meus cotovelos, sempre tive um bom companheiro que gosta do Nelsão. Assim era com o finado Mariano, meu colega de copo e de cruz no extinto Bar do Ferrinho. Assim foi com o “tio” Mauro e o protético Bras no Bar do Celinho. Sem falar do Bar do Lucas Jovito, onde o próprio dono da bodega deixava a freguesia de lado, sacava o violão de trás do balcão pra gente soltar o gogó em Meu Dilema.
Em vários de seus sambas-canção, Adelino Moreira abordou a amizade e a lealdade entre boêmios. Na sua primeira música gravada por Nelson Gonçalves já aparecia a expressão “amigos leais” (“... adeus amigos leais/ que não deixaram jamais/ fazer-me qualquer traição...” – Última Seresta, composição de 1952). Primeira gravação de Adelino com Nelson, mas não o primeiro sucesso. A grana brotou mesmo quatro anos depois também falando da lealdade com colegas de copo (“... vá rever os seus rios, seus montes, cascatas/ vá sonhar em novas serenatas/ e abraçar seus amigos leais...” A Volta do Boêmio – 1956). Quando o boêmio de Adelino Moreira recebe da amada a exigência de sua retirada imediata de entre mesas e balcões, é aos amigos leais que ele informa em primeira mão a dura decisão (“... já decidi, amigos meus:/ adeus serenata/ adeus boemia/ violão, adeus...” Ultimato).
Pra acalmar os nervos do ex-boêmio agora abstêmio Marcão, mando aqui uma das boas do Adelino no vozeirão do Nelsão. É Fantoche, gravada em 1960.
ATUALIZAÇÃO (13.ago.2011) - Marcão voltou a beber e a fumar. "Quem sai aos seus não degenera", nénão???
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