quarta-feira, 12 de maio de 2010

O dia em que Chico deixou Piazzolla puto

Para Roberto Duarte

Lá pelo início dos anos 70, o grande maestro e compositor argentino Astor Piazzolla deixou uma música sua para o grande brasileiro Chico Buarque fazer a letra.
A música falaria sobre um poeta louco, que vivia na miséria, etc.
Mas, Chico não conseguia achar os versos para a melodia tão linda que Piazzolla lhe legara. E assim se passaram mais de 10 anos...
Em 1986 Astor veio ao Brasil. Entre seus compromissos, uma participação no programa Chico & Caetano, da TV Globo. A atração era gravada com uma semana de antecedência. Chico teve um estalo: “Piazzolla!!! Pô, se a gente fizesse aquela música, se eu pusesse a letra naquela música seria genial, né?”.
Mas Piazzolla já não se lembrava mais que composição era aquela. Chico deu a fita que passou uma década na gaveta para o argentino reaprender e fazer o arranjo.
O dia da gravação foi se aproximando, e novamente Chico sem uma gota de inspiração.
Como fazia nas manhãs antes de gravar o programa, Chico batia uma bola. Ele lá no futebol com os amigos, e el señor Astor Piazzolla já no Teatro Fênix, esperando a letra para ensaiar. “Donde está Chico?”, impacientava-se. Pra piorar as coisas, alguém disse que Chico estava jogando bola.
Pela vigorosidade da obra de Piazzolla, já dá pra você imaginar o rigor do gênio portenho. Quando Chico chegou ao teatro na maior cara-de-pau e de mãos vazias, Astor se emputeceu de vez.
Precisou o Tom Jobim, com toda a sua lábia de Antonio Brasileiro e sua doçura de maestro soberano, acalmar o mago do bandoneón.
Se você quiser ver e ouvir esta história diretamente na voz do dono,
divirta-se
Curta uma das maravilhas do incomparável artista latinoamericano:
Fugata (Astor Piazzolla)

Bandoneón – Astor Piazzolla. Violino – Antonio Agri. Guitarra - Oscar López Ruiz. Contrabaixo - Kicho Dias. Piano - Dante Amicarelli.

2 comentários:

Ana Paula Medeiros disse...

Travado um duelo de Gigantes!!!
Ah de se lembrar que o gênio Piazzola é Argentino!
Não tirando mérito de nenhum dos dois...

Fã e tiete de Chico Buarque de Hollanda

David da Silva disse...

Já pensou, amiga Ana, se o Chico tivesse conseguido espalhar suas sílabas cortantes sobre os botões dilacerantes do bandoneón do Astor?
O que seria de nuestros pobrecitos corações???