sábado, 1 de maio de 2010

Uma noite entre grandes

Foi graças ao meu amigo jornalista, poeta e advogado Djalma Allegro que pude compartilhar ontem à noite o mesmo espaço com a escritora Lygia Fagundes Telles e o jornalista e escritor Audálio Dantas.
O encontro foi no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, na posse da nova diretora da União Brasileira de Escritores (UBE).
Foi muita emoção pro meu pobre coração eu poder apertar a mão imortal de uma das mais importantes escritoras não só do Brasil, mas de toda a Terra.
Lygia (na foto sendo homenageada por uma diretora da UBE) completou 87 anos no último 19 de abril.
Foto: Anderson Siqueira
Todo jornalista brasileiro deve louvores a Audálio Dantas (à esq. na foto com Djalma Allegro e eu). Audálio comandou o Sindicato dos Jornalistas na fase mais barra pesada da ditadura militar. Foi na sua gestão que o governo dos generais matou o jornalista Vladimir Herzog. Anos depois, como deputado federal Audálio esteve ao lado dos metalúrgicos do ABC no grande levante do final da década de 1970. O blog está preparando uma entrevista com este legendário jornalista.
Do meu amigo Djalma Allegro, eu já publiquei um poema
aqui no boteco. Djalma me foi apresentado pelo nosso amigo comum Aloísio Nogueira Alves.
Ele garantiu para breve um poema inédito a ser degustado pelos colegas de copo e de cruz. Enquanto a nova poesia não vem, fiquem com uma das obras dele que eu mais gosto:
ELE
Djalma Allegro

Meu eu saiu por aí
ébrio tal sempre foi
louco qual ele só.
E,
não encontrou quem não queria
e esteve feliz de ser tão triste
mergulhou em filosofias
despediu-se de chafarizes
subiu árvores sujas
rolou na relva
sem ver se estava ou não de paletó.
Falou com canteiros
e assobiou trechos (inteiros)
de música nenhuma.
Meu eu correu por aí
pulou
acendeu lampiões de gás
imitou passarinhos
volatilizou
declamou Shakespeare
e, mudo
sentado no banco de praça, feliz
sem o mínimo cansaço
ouviu de si próprio
duas horas de versos
E canções antigas.
E aplaudiu. E pediu bis.
E aplaudiu. E pediu bis.

Meu eu saiu por aí
a calar com mulheres
com mania de Pierrot
a gozar amor-ternura
a virar cambalhotas.
Saiu beijando espelhos
dando soco em quem devia.

Meu eu viveu
mais do que eu!
Que ele, às vezes
sai por aí
e eu, e eu
eu sou sempre eu
e nunca saio daqui.

(do livro Retomada – Massao Ohno Editor, 1999 – pág. 199)
NOTA DO BALCÃO – Fui a este evento na companhia do desenhista Anderson Siqueira e de sua esposa jornalista Ana Paula Medeiros. Eles próprios vão relatar suas impressões sobre este encontro no blog
Anderson Siqueira Quadro a Quadro.

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