quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um violão na terra dos samurais

A ida (ou melhor: o retôrno) de Baden Powell a Tokyo em abril de 1971, foi devido à insistência de um produtor japonês de discos. Baden tocou no Japão pela primeira vez em 26 de setembro de 1970. A temporada dele com seu quarteto por lá se esticou até outubro daquele ano, quando Baden gravou acompanhado por três músicos japoneses a canção Itsuki-no-Komoriuta, folclore datado de meados do século 16.
Aquela gravação enfeitiçou o país, e imprimiu o nome de Baden Powell - em japonês:  バーデン・パウエル  - nos corações e mentes dos nipônicos.
A gravadora japonesa Canyon pelejou por mais de um ano para contratar Baden. Até que usaram um argumento poderoso: U$S 30 mil (trinta mil dólares, sim senhora!) para Baden gravar 30 músicas – tá bom pra você mil dólares por música? Pro Baden estava. E lá se foi ele para a terra dos samurais armado com seu violão Di Giorgio modelo Author 3, feito especialmente para ele.
 Chegando a Tokyo, Baden procurou o produtor para acertar detalhes da gravação. “Que músicas você quer?”, perguntou. “Como assim?”, devolveu o nipon. “As músicas! E cadê os músicos?”. “Hããã???”. O dialógo estava ficando impossível. Até que o produtor passou uma lista de composições japonesas modernas. “Isto aqui qualquer um pode gravar!”, protestou Baden. Mas o japonês queria-porque-queria que fosse o colossal Baden Powell a dedilhar aquelas musiquinhas. E tinha aquela bufunfa toda esperando na porta do estúdio.
Levaram Badéco pra gravadora, que ficava muito longe do centro da cidade, bem pra lá dos cafundós de Tokyo. Nenhum bar por perto... Antes de mandar o técnico apertar o play, Baden teve de andar um bocado até achar um boteco onde comprar o whisky pra temperar o ambiente. “Cadê os músicos?”, voltou a perguntar Baden. O japonês disse que a orquestra já tinha gravado a parte dela - era só ele colocar o violão em cima, e fim de papo. Das 30 músicas gravadas, 14 delas foram aproveitadas no disco Shiretokoryojou – Hanayome, uma relíquia fonográfica que só vale porque botou 30 mil mangos com a cara de George Washington no bolso do nosso herói do violão.

Sayōnara, Badéco!

A afeição dos japonêses por Baden foi instantânea. Badéco (assim o chamava Vinícius) voltou muitas vezes a Tokyo; numa das últimas, levou os filhos Philippe e Marcel.
A ligação nipônica com a obra de Baden pode ser medida pelo fato de a regravação de 1990 dos Afro-Sambas ter sido lançada primeiro lá, e somente anos depois aqui no Brasil.
Baden ensinou aos nipônicos o que é berimbau ビリンバウ
E até fazer saudação com um sonoro Saravá!  サラヴァ

Jornal japonês de 27.set.2000 noticiando a morte de Baden no dia anterior

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