segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Hoje tem debate-papo sobre o teatro na periferia

Dia da estreia da 3ª Mostra de Teatro do Gueto trouxe risos e reflexões

Martinha Soares,
atriz e arte-educadora.
Foto: Raissa Corso
Por Martinha Soares

Foi muito especial o primeiro dia da III Mostra de Teatro do Gueto, iniciada no sábado dia 5 de novembro, e vai até 12 de novembro no Espaço Clariô.
É o terceiro ano que a Mostra acontece, e o segundo ano sem apoio nenhum de editais nem incentivo privado ou do poder público local. Mesmo assim, a Mostra cresceu. Neste ano contamos com oito coletivos teatrais. Em 2010 foram cinco.
Dentre a série de espetáculos, vamos promover, nesta segunda-feira, uma mesa de debate-papo reflexiva sobre as práticas do teatro contemporâneo. No encontro chamado FormAção Periférica – Nem Eu, Nem Tu, Nem Tietê, queremos dialogar e tentar entender que momento é esse para o teatro. O que ele significa para os grupos dentro do contexto social e político em que nos encontramos? Quais os levantamentos possíveis pra essas questões colocadas?

Tarde de agitos, risos e reflexões
Trupe Fuleragem - Foto: Divulgação
Abrimos a III Mostra de Teatro do Gueto com muita alegria da Trupe Fuleragem. São artistas da segunda turma de Formação de Palhaços Jovens dos Doutores da Alegria. O excelente espetáculo Fora do Trilho trouxe um misto de cenas clássicas e criações próprias. Houve ainda lindos momentos de improvisos onde o  palhaço Aurelino (Diego Avelino) interage com a pequena Ana Clara, que até momentos antes do início do espetáculo exclamava: "Eu tenho muito medo de palhaço!"
Eles foram conquistando a plateia com a magia única desses seres que se mostram tão inteiros em cena, ganhando  sorrisos,  rompendo as couraças dos mais fechados.
Mas o palhaço carrega também dentro do seu ridículo a pílula da reflexão. Ele nos faz olhar pra nossa realidade em momentos que nos toma de assalto, e fala de nossa política local, deixando nosso riso mais sério.

Bela noite de novembro
A segunda apresentação da Mostra se deu à noite, com a galera do Coletivo Negro. O elenco tem atores negros formados pela Escola Livre de Teatro de Santo André, e pela Escola de Arte Dramática da USP (Universidade de São Paulo).
O Coletivo Negro chegou mostrando a que veio. Um cenário muito criativo, funcional e auto-suficiente, onde a plateia também faz parte dele. Uma preparação linda. Eles não pararam um momento sequer - preparando cada detalhe, transformando cada pedacinho do nosso Espaço Clariô. Depois da pouca maquiagem e troca de figurino, um intenso preparo físico.
Finalmente uma "Antiga" veio ao nosso encontro. Era o anúncio que iniciaria o espetáculo. Ela fala um pouco do que nos espera depois que a porta se abrir. Sem hesitar, a plateia entra. Nos sentamos em roda nos bancos-cenário, e assistimos a quatro histórias. Personagens que foram retirados à força de sua moradia para a construção de uma linha férrea. Eles nos falam de nossas origens, dos negros que vieram pra cá. Da necessidade de relembrar essas histórias pra poder perpetuar a espécie. Pra não esquecermos de quem somos.  "Limpar as vistas pra entender o passado, pra enxergar o presente, ou pelo menos vislumbrar um futuro", diz a personagem vivida por Thais Dias.
O espetáculo envolveu a plateia completamente. Para isso são usados objetos de muita significância - tijolos, garrafas penduradas, as sandálias de uma passista de escola de samba, ou a pipa do menino... Os atores dançam o teatro em cena. Para finalizar somos convidados a enterrar os mortos, pra que eles consigam descansar dessa vida.
O espetáculo conta também com dois músicos super integrados nas cenas. Ouso dizer que são músicos-atores. A música é também personagem dessa história que pudemos “experienciar” nessa bela noite de novembro.

Segunda-feira, dia 7 de novembro – 20h30
Debate-papo sobre produção teatral na periferia
Fala-se muito das pontes que separam geograficamente as periferias do Centro de São Paulo.
Pegando o gancho dessa idéia, munido da frase do poeta Miró de Muribeca: “Ninguém agüenta mais. Nem eu, nem tu, nem TI-ETÊ!”, o Grupo de Teatro Clariô propôs um dia de discussão sobre a prática do teatro como forma de pesquisa continuada em regiões onde essa realidade ainda é muito precária.
Participação de representantes dos coletivos participantes da III Mostra de Teatro do Gueto. Convidados: Iraci Tomiato (Engenho Teatral), Walter Lins (Cia Encena de Teatro), Capulanas-Cia de Teatro Negro
Espaço Clariô
Rua Santa Luzia, nº 96 – Taboão da Serra
Referências: próximo ao Hospital Family.
Mais informações: grupoclario@uol.com.br

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