quinta-feira, 15 de novembro de 2012

De noite, ele vem

Elisabeth Nunes - Foto: Reprodução | Facebook
Por Elisabeth Nunes

Hora de ir para a cama. Sonhar acordada é algo que me satisfaz até o sono vir.
Travesseiro de penas de ganso, cabeça ajeitadinha e fechando os olhos.
Delícia! Hora de sonhar.
“Hei! Que barulho é esse!?”
Criiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, criiiiiiiiiiiiiiiiii,criiiiiiiiiiiiiii!
Levanto assustada olhando ao redor. Marido trabalhando à noite. Filhos dormindo.
“De onde vem esse barulho”?
Deito novamente e me concentro.
Criiiiiiiiiiiiiiiiiiii, Criiiiiiiiiiiiiiiiiii!
- Serão grilos na fora? – Falo para mim mesma.
Levanto. Abro a porta. Olho o milharal no quintal.
Acordo meu filho e pergunto:
-Denis, está escutando algum grilo?
-Não mãe, não tem nenhum grilo cantando.
-Nenhum barulho?
-Não, mãe. Tá o maior silêncio.
Apaguo a luz e deito com o “cri” na cabeça.
Ao amanhecer não escuto mais o “cri”.
Estranho... Muito estranho...

A noite chega. E com ela outro barulho.
Trummmm, trummmm, trummmmm!
Levanto assustada. Caminho pela casa e tento descobrir de onde vem.
Paro no meio da cozinha. Presto atenção.
“É impressão ou o barulho está dentro da minha cabeça?”
 - Denis! Está escutando um barulho de carro com escapamento furado?
- Não, mãe. Por que a senhora pergunta isto?
- Estou ouvindo aqui dentro da cabeça.
- Não tem barulho nenhum.
Pronto! Confirmou minha suspeita. Não existe barulho. O problema está em mim.
Vamos dormir escutando carro com escapamento furado?
Sonho dirigindo uma Ferrari em alta velocidade, com escapamento furado.

Marido almoçando. Aproveito para tirar minha dúvida.
- Amor, estou escutando barulhos à noite.
- Que barulho?
- Há dois dias ouvi como se fossem grilos. Ontem como um carro com escapamento furado. Procuro, procuro, mas parece que está aqui dentro da cabeça ou, talvez, no ouvido. O Denis falou que não ouve nada.
Agora, por exemplo, não estou ouvindo.
Vamos ver se essa noite eu ouço algo. Estou preocupada de verdade.
- Vá ao médico. Meu amigo reclama de um zumbido constante.
- Será que preciso ir ao médico?
- Fica atenta. Se continuar o barulho, precisa ir ao otorrino.
Fico cabisbaixa. Pensando em algum problema sério.
Mas ao mesmo tempo feliz.
Meu marido não trabalharia à noite desse dia e poderia compartilhar com ele minha dúvida.
Tudo pronto para deitar.
Vamos ver se acontece novamente.

Dei risada fechando os olhos. Coisa de louco, mas levo as coisas na esportiva.
Em poucos minutos o barulho chega aos ouvidos. Dessa vez uma sirene.
Nem sei descrever, mas era uma sirene com um som bem agudo.
Uau, uau, uau, uau, uau, uau...
Sem fim, não parava.
Levantei e acordei meu esposo perguntando:
- Está ouvindo uma sirene?
Levantou e ficou prestando atenção, olhando para o alto.
Abriu a janela e olhando para mim disse:
- Não tem nenhuma sirene. Nem lá fora como aqui dentro. Não existe barulho nenhum.
Coloquei as mãos nos dois ouvidos e tapei. A sirene estava lá dentro da minha cabeça.
- Tudo bem. Vou procurar um médico. Será que estou ficando louca?
Deitei e comecei a imaginar eu dentro de uma ambulância (já que estava me achando louca), indo ao hospital.
Mas então virei heroína no sonho acordada. Afinal, já que sou a dona do sonho, quero sair ganhando. Subi na ambulância e retirei a sirene.
Joguei muito longe.
Mas ela voltou dentro da minha cabeça.

2 comentários:

Beth disse...

De noite, ele vem. Sim o zumbido vem. E quero que saibam que lido muito bem com ele. Com certeza tenho momentos de tristeza, mas logo estou sorrindo. Porque? Porque não existe cura, porque ele não irá me matar e porque quero viver intensamente! Espero que tenha utilidade minha história de vida.
Que eu possa servir de exemplo para pessoas que sofrem de zumbido. Continuarei contando sempre um pedacinho desse zum que ja faz parte da minha vida á 23 anos.

FRANCIELI FRATINI disse...

Bety querida!
Te conheço a muitos anos, inclusive nos falamos sempre sua ""doença", mesmo assim fiquei emocionado com o seu relato e com sua garra pelo bem viver.
Você é uma guerreira, minha "S" preferida.