terça-feira, 18 de junho de 2013

A batata assou

Ativista com flor branca da paz na Avenida Faria Lima
Foto: David da Silva - 17.jun.2013
Eles não acreditaram. 
Os árabe-descendentes Haddad e Alckmin tentaram desfazer do levante popular brasileiro-paulistano. 
Feito seus ascendentes lá na Praça Tahir e na Praça Taksim.
“Grupelho”, foi o adjetivo compartilhado pelos antagonistas petistas e tucanos, sobre manifestantes contra a esculhambação do transporte coletivo na maior metrópole latinoamericana.
No Largo da Batata, a batata dos governantes assou.
Sem a idiotice incendiária dos que achavam que fogueirinhas de papel bloqueariam a Tropa truculenta de Choque.
Agora, é o diálogo.
Nada de pabulagem consentida. 
Mas o levantar das pontes levadiças da democracia.
PT e PSDB cairam na esparrela de se acharem donos das demandas. 
Sequer se deram ao trabalho de construir a capilaridade que qualquer governo decente deve aplicar.
Cheguei ao Largo da Batata às 16h41. E alí a galera já havia se convertido em multidão. 
Como diria Pero Vaz de Caminha na Carta do Descobrimento: “Desde a parte que para o sul ia, até a outra ponta que do norte contra nós vinha”, era tudo um único e imenso povaréu.
Suzi com cartaz de aluna, agitadora cultural do Campo Limpo
Foto: David da Silva
Um grupo enraivecido lançou-se contra um repórter. 
Ouvi alí, 34 anos depois, o mesmo grito contra uma poderosa emissora de TV. Mas, agora, já com um condimento tipo chute no baixo ventre: “Ô, Rede Globo / Vá se fudê / O movimento não precisa de você”.
O namoro dos movimentos jovens com o governo paulistano semi-esquerdista também parece estar em clima de discutir a relação. Na esquina da Avenida Faria Lima com Rua Teodoro Sampaio a provocação era uma adaga no peito do prefeito Haddad: “Acabou o amor/ Aqui vai virar Turquia”.
Voltando para Taboão da Serra, vi a PM solícita bloquear a via Marginal Pinheiros.
Sinal dos tempos.
Na parada de ônibus na ladeira Paineiras, passageiros mesclavam clima de complacência e ódio.

O Largo da Batata tem este nome devido ao comércio deste produto naquele lugar no início dos anos 1900. Para lá iam sei lá quantas toneladas das batatas plantadas pelo honorável senhor Kizaemon Takeuti nas encostas dos atuais bairros Jardim Clementino e Jardim Roberto e adjacências, em Taboão da Serra. Meu pai, motorista Geraldo Cunha da Silva, era um dos conduzentes daquelas safras.

Me senti em casa. No ambiente em que paulistanos e paulistanas de todos os cantos do Brasil provaram aquilo que a compositora Janet Silva disse em 1955: “Brasileiro na batata é que tem valor”.
Manifestantes em marcha frente à Igreja Monte Serrat, no Largo de Pinheiros - Foto: David da Silva 
Polícia Militar interditou pista da Marginal Pinheiros - Foto: David da Silva
Passageiros sofrem na parada Paineiras em tarde de protesto - Foto: David da Silva

Segundos antes de os meus olhos fatiarem a tarde/noite de hoje e o amanhã que já se avizinha, dou de cara, no perfil do Facebook da minha filha, com o texto da minha cria. Que estava lá também, no Largo da manifestação. Mas, sem nem precisar me ver. Compartindo com seus colegas  (como eles dizem: da "facul") do instant'histórico de agora a pouco:
"Hoje pude gritar ao mundo o amor que sinto por essa cidade e por esse país. Desde pequena digo com orgulho que sou patriota e acredito que juntos podemos, sim, botar ordem na casa.
Renato Russo já dizia: "vamos fazer nosso dever de casa, e aí então vocês vão ver". Fizemos nosso dever e eles viram. Crescemos e hoje podemos ir às ruas lutar pelos nossos direitos. Para quem é contra e rotulou manifestantes como baderneiros, hoje podem ver que estamos lutando por todos nós, e quando vencermos todos desfrutarão.  Agradeço aos meus pais que sempre lutaram por um país melhor e hoje não me impedem de fazer o mesmo.
Acordamos.
E vamos até o fim. Porque essa cidade é nossa. Esse país é nosso. A luta não é só pelos R$ 0,20. E se fosse, eu estaria lá do mesmo jeito. Porque é nosso.
Vou dormir com pernas, pés e joelhos doendo. Mas durmo feliz por saber que muitos estão lutando também.

E não vamos desistir!"
(Maísa Borghetti)

Um comentário:

Maísa Borghetti disse...

É como diz o Poeta Sérgio Vaz "Milagres acontecem quando a gente vai a luta".