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Cidadão argentino olha vitrine de mercadito chinês em Belgrano, Buenos Aires. |
Você não anda mais que duas-três
quadras aqui em Buenos Aires sem deparar com um mercado.
Não daqueles super. Mas, mercadinhos de vila. Para pequenas compras circunstanciais.
Caminhando pela Calle (rua) Charcas rumo a um mercadito, lembrei de um tango do Ernesto Santo Discépolo ("... en seis meses me comiste el mercadito / la casiya de la feria, la ganchera, el mostrador...")
Todos os mercaditos de Buenos Aires são de chineses. Por isto os chamam de mercado chino.
Mercadinho chinês da Rua Jorge Luis Borges onde faço as compras do dia-a-dia quando venho ao bairro Palermo, Buenos Aires. |
Onde estamos hospedados em Palermo, no trecho da Rua Jorge Luis Borges entre as ruas Charcas e Paraguay, são três mercaditos chinos.
Meu amigo dono do Daniel’s Bar, onde fiz meu quartel-general na
esquina da Rua Charcas com Thames, me ajuda a desvendar o mistério do por
quê todo mercadito de Buenos Aires ter como proprietário um chinês.
Estima-se que a cada semana cinco novos
mercadinhos chineses são abertos na Argentina. Somam hoje em torno de 10 mil
pelo país.
A grande onda de imigração chino-argentina se
deu na década de 1990. Era fácil obter documentação – demorava entre 90 e 180
dias.
Depois o governo embirrou. O visto de entrada
passou a demorar de seis meses a dois anos. A invasão amarela amainou.
Como tudo que é oficial tem
cheiro de picaretagem, o censo também mente. O levantamento populacional de
2010 alega 8.929 chineses por aqui. Mas eles próprios admitem serem em torno de
100 mil.
Oitenta por cento dos imigrantes chineses na
Argentina vem da província Fujian, no leste da China. O resto vem na maioria de
Taiwan.
A importância dos mercadinhos chineses no
cotidiano argentino foi reconhecida pela presidência da República. O governo
federal incluiu os mercaditos no pacto de preços controlados
de 122 artigos. Os de maior demanda são: macarrão, arroz, erva-mate, produtos
de higiene pessoal e de limpeza doméstica. Sem esquecer o sal e o fernet. Sim,
o direito de encher a cara está garantido na cesta básica do governo.
Mercaditos são figuras clássicas da história de Buenos Aires |
Com salões entre 200 e 300 metros quadrados, mercaditos chineses de Buenos Aires seguem sempre o mesmo desenho. Na parte da frente uma quitanda (verdulería) e na de trás um açougue (carnicería). O setor horti-fruti nunca é do chinês (geralmente bolivianos ou peruanos). E o açougue é sempre de um argentino.
Quando um chinês chega aqui, uma
família de conterrâneos o adota. Ele começa a trabalhar como repositor, depois
assume o caixa e, guardando dinheiro, abre seu próprio negócio.
Buenos
Aires, 1º.mai.2014
Um comentário:
Texto ótimo.Parabéns David.
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