A melodia de Fascinação nasceu em 1904. Sua autoria é atribuída ao violinista italiano Dante Marchetti. O músico trabalhava em cabarés de Paris. Em 1905 o ator Maurice de Féraudy colocou letra na música até então instrumental. A primeira gravação cantada foi feita por Paulette Darty: “Je t'ai rencontré simplement / Et tu n'as rien fait pour chercher à me plaire / Je t'aime pourtant / D'un amour ardent / Dont rien, je le sens, ne pourra me défaire. / Tu seras toujours mon amant...”
No meio artístico francês corre a
lenda que Dante Marchetti não é o verdadeiro compositor de Fascinação. Ele teria feito uma encomenda a um jovem músico em
início de carreira. Era o colossal Maurice Ravel, que para não prejudicar sua
ascensão como autor de música clássica, aceitou o dinheiro mas não quis seu
nome vinculado a uma valsa cigana.
De fato, Dante Marchetti foi compositor
inexpressivo. Quando se ouve com atenção a melodia de Fascinação, cremos ter sido mesmo obra de um músico superior. Nos
volteios da melodia, as cordas dos violinos laçam a pessoa,
puxando-a para dançar.
Nunca ninguém saberá se Fascinação saiu ou não da partitura de
Ravel.
Em 1943 o radialista brasileiro
Armando Louzada fez uma versão em português gravada
por Carlos Galhardo no dia 4 de fevereiro daquele ano. “Os sonhos mais
lindos sonhei / De quimeras mil um castelo ergui / E no teu olhar tonto de
emoção / Com sofreguidão, mil venturas previ. / O teu corpo é luz, sedução...”.
A valsa virou tema de novela na Rádio Nacional.
Sucesso estrondoso.
Em 24 de outubro de 1957, Galhardo voltou a
gravá-la na nova tecnologia dos discos de vinil. A música, que tinha duas
partes no original em francês, desta feita foi gravada só em sua primeira
parte.
Ocorre que três anos antes a valsa havia
sido gravada pelo cantor norte-americano Nat King Cole, na versão inglesa de
Dick Manning. Foi uma covardia. A interpretação aveludada de Nat virou
mania mundial: “It was fascination I know / And it might have ended /
Right then, at the start / Just a passing glance / Just a brief romance / And I
might have gone / On my way empty hearted…”
Quase ninguém falou na interpretação do brasileiro Carlos Galhardo...
Em 1976 Elis Regina incluiu Fascinação no repertório do show “Falso Brilhante”. Com forte
crítica à ditadura militar, o espetáculo é ainda hoje o maior e melhor da
história da MPB. Ficou em cartaz no período de 17 de dezembro de 1975 até 18 de
fevereiro de 1977 sempre com o Teatro Bandeirantes lotado. Fui assisti-lo por três
vezes.
Um ano mais tarde, Elis voltaria a gravar essa valsa ao vivo no show “Transversal do Tempo”.
Quando Elis Regina morreu em janeiro de 1982,
estava contratada para o encerramento do Festival de Verão no mês seguinte, na
Praia do Gonzaga, em Santos.
Os produtores do espetáculo nem cogitaram chamar
substituta. No palco totalmente vazio, enquanto a voz gravada de Elis cantava a
eterna valsa, apenas um microfone no pedestal debaixo de um foco de luz.
6 comentários:
Perfeito, caro David! Pesquisador e conhecedor profundo de nosso acervo músico-cultural, vc está sempre nos brindando com todas essas suas galhardias, repartindo as mais belas histórias e estórias, socializando com milhares o sabor mais encantador dos gênios de nosso País. É real, atual e verdadeiro o descrito sobre o ocorrido no Cemur "Carlos Drumond de Andrade". Crédito a quem tem crédito... Sempre.
Simplesmente amei ler
Nossa, obrigada por compartilhar, essa versão cantada por Elis sempre me fascinou e despertou curiosidade sobre a composição.
Amei ler , hoje, em 2023, sobre uma das minhas musicas favoritas e que intitula meu novo show Fascination aqui in France. Muito obrigada por esse artigo, nos brindando com mais conhecimento e curiosidades a respeito dessa perola que Elis Regina magnificou. Bjs David
Acabei de ler esse artigo, agora, em 2023 sobre uma das minha musicas favoritas e que intitula o meu novo show aqui en France : Fascination. Muito obrigada David, voce sempre nos brinda com muitas curiosidades e aumenta nosso conhecimento. Bjs de Cannes, France
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