domingo, 22 de março de 2015

Urubu acha em Pinheiros idoso morto pela enchente de Taboão

Curiosos observam bombeiros no resgate do corpo.
Foto: José Roberto de Toledo | jornal Estadão
A insistência com que aquele urubu voava baixinho num trecho da margem do Rio Pinheiros, chamou a atenção de ciclistas e motoristas próximos à Cidade Universitária, zona oeste da capital São Paulo. No local são comuns estas aves petiscando montes de lixo tirados do rio, e deixados para secar na lateral da ciclovia. Mas o sobrevôo circular constante do urubu sobre um único ponto na beira da água, indicava que ele estava de olho em algo diferente na manhã deste domingo, 22 de março. Cismados com o comportamento do bicho, populares acionaram o Corpo de Bombeiros por volta das 11h. Constatou-se que o urubu conseguiu o que 10 viaturas e 32 militares tentavam há três dias – encontrar o corpo do aposentado José Fonseca da Silva, 69 anos, morto pela tromba d’água que se abateu sobre Taboão da Serra na tarde da última 5ª-feira, dia 19.
Esta não foi a primeira vez que o corpo de pessoa morta por enchente em Taboão da Serra é encontrado boiando no Rio Pinheiros.

Suplício no Morro do Cristo
O resgate de José Fonseca da Silva do leito do rio demorou cerca de uma hora e meia. O corpo estava muito inchado e em decomposição adiantada.
Morador do município de São Paulo, o aposentado havia trazido pela primeira vez sua esposa a Taboão da Serra, para fisioterapia na mão operada recentemente. Ao sair do procedimento, a mulher não viu o marido na porta da clínica. Avisou o filho Alessandro pelo celular. Enquanto tentava telefonar para o pai, o rapaz reconheceu pelo telejornal o carro dele arrastado, engolido e capotado pela enxurrada.
Nália Garcia relembra o choque de ver o padecimento do 
idoso engolido pela enchente. Foto: Reprodução TV Globo

O lugar do suplício de José Fonseca foi o mesmo onde todos os anos é encenada a crucificação de Cristo na Sexta-Feira da Paixão. O homem ficou com o pé preso no veículo ao tentar se livrar da sanha assassina das águas. Quando conseguiu se soltar, a correnteza cumpriu sua intenção de matar.
Uma moradora filmou com seu fone celular todo o sofrimento do idoso. “Muito chocante mesmo. A gente estava aqui, de espectadora daquela tragédia, e sem poder fazer nada”, disse Nália da Silva Garcia, moradora do bairro há cinco anos e sete meses.
Em fevereiro de 2010, a mesma Nália Garcia, na época com 30 anos, revelou para a imprensa os seus medos a cada época de chuvas. Neste verão trágico de 2015, Nália assistiu a sequencia mais macabra jamais registrada durante as enchentes que infelicitam Taboão da Serra.

Três anos atrás, no dia 16 de dezembro de 2011, outro corpo de morador de Taboão da Serra foi encontrado boiando na mesma localidade onde acharam hoje José Fonseca, perto da Ponte Cidade Universitária.
Na ocasião, os Bombeiros identificaram Roberto, 48 anos. Ele havia caído na noite anterior, por volta das 23h15, ao tentar atravessar uma pinguela sobre o córrego que cruza o bairro Jardim Saporito onde morava.

A palavra enchente está incorporada ao vocabulário taboanense há mais de um século. Na mesma Vila Santa Luzia onde José Fonseca encontrou a morte na 5ª-feira passada, há relato de cheias 104 anos atrás – leia aqui

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