sexta-feira, 5 de junho de 2015

A voz e a vez de Fernanda Coimbra

Cantora faz show intimista nesta sexta-feira
“Você me espera um pouco? Tô carregando uns caixotes aqui para minha nova casa”. Começa assim a entrevista com a cantora Fernanda Coimbra, 27 anos, na tarde fria garoenta de uma segunda-feira. Além da mudança de lar, a moça está às voltas com o show que vai apresentar nesta sexta-feira, 5 de junho, na Fábrica de Cultura a poucos metros de onde mora no bairro Capelinha, distrito do Jardim São Luis, zona sul paulistana.
A reportagem também ‘entra na dança’ e pega algumas caixas de madeira para servir de estante onde a artista se mudou recentemente. No caminho da residência, minha dúvida: “Se ela veio pra cá há poucos dias, como é que...?”. Fernanda vai descendo a rua e é um tal de “Oi!” pra uns, “Boa tarde!” pra outros, “E aí?” pra muitos. “É que na verdade eu estou voltando pra cá”, ela explica. “Eu me criei neste bairro desde os 6 anos de idade”.
Reparo que uma das travessas da via por onde andamos chama-se Rua da Música Aquática – tem uma outra com nome Rua Quarteto do Imperador. Bem adequado para uma garota que ganha a vida com canções.
A casa em que Fernanda está morando é um reino de mulherada, mulherame, mulherio. “Aqui vivemos eu, minha filha Lorena de 7 anos e cinco amigas, todas artistas. É a ‘casa das 7 mulheres’”, sorri.
Fernanda Coimbra também é ritmista

Fernanda Coimbra formou um razoável público nas suas constantes participações nos encontros poéticos do Sarau do Binho. “Sempre gostei de cantar. Não lembro de mim sem cantar desde pequena. Quando eu tinha 10 anos, minha mãe me levou no Programa do Raul Gil, e cantei Sandy e Junior”, lembra às gargalhadas. Aos 12 anos, a menina fazia parte do coral da Igreja Maria Goreth.
Com 14 anos de idade Fernanda Coimbra ingressou em um curso de teatro na ONG Casa dos Meninos. “Foi uma revolução na minha vida. Uma pessoa que me influenciou muito foi a Diane Padial, que na época era coordenadora pedagógica na Casa dos Meninos. Muito da minha formação eu devo a ela. Quando eu crescer quero ser Diane Padial”, brinca.
O espírito libertário da jovem rendeu-lhe problemas com o pai. “Para reprimir minha veia artística, ele impunha o terror psicológico. Cheguei a dormir com fome. ‘Da minha comida você não come’, ele disse muitas vezes. Daí comecei a fugir de casa, passar dias nas casas de amigas. E até dormir em galpão de fábrica abandonada”, relembra.

Para garantir sua independência perante o pai castrador, Fernanda começou a trabalhar aos 16 anos em uma loja de roupas no Shopping Boa Vista, na região de Santo Amaro.
Por esta época já tinha contato (e até passado a morar eventualmente) com uma comunidade de artistas no Jardim Monte Azul. “Minha amiga Paty, colega da 7ª série, tem um irmão que fazia parte deste coletivo de artistas do bairro Monte Azul. Foi lá que conheci o pessoal do grupo Trópis, o compositor Gunnar Vargas, a cantora Paula da Paz e uma galera imensa que se dedica à arte”, conta.
Foto: Elaine Campos

As cantorias pelos saraus deram notoriedade suficiente para Fernanda Coimbra ser convidada a integrar bandas em shows. “Meu amigo Jefferson me apresentou para um grupo de jazz e bossa-nova, eu cantei os Afro Sambas do Baden Powell e Vinícius de Moraes. Tocamos no Ton Ton Jazz, em Moema. A banda tinha o nome Al Jazeera, mas era composta só por descendentes de japonês”, diz, sempre rindo.
Mas Fernanda não era neófita em bandas exóticas. “Com 15 anos eu fui baterista de um conjunto com nome horroroso!”. Por insistência do repórter, ela confessa: “Quando a gente foi dar nome pra banda, meu amigo Diego vestia uma camiseta do Homem-Aranha. Daí batizamos o grupo de ‘Os Aracnídeos’. Que vergonha, meu Deus!”. (mais gargalhadas)

Me lembro dessa cantora em um show intimista com características eróticas em outubro de 2012, no teatro Clariô – “Fernanda Coimbra inteira à meia luz”, com o baixista Gabriel Catanzaro.
Meses antes, no inverno daquele 2012, ela havia feito o primeiro show solo de sua carreira com o repertório eclético que sempre pautou o seu cantar, incluindo Pink Floyd, Edu Lobo, Ithamar Assumpção, e composições de colegas no Espaço Comunitário Monte Azul, acompanhada por Sandrinho Lima (violão), Pithy Cajonero (percussão) e Carlinhos Creck (baixo). Neste mesmo ano, fez apresentações na casa Carro de Bois, com Sandrinho Lima.
Músicas sob medida para a voz
de Fernanda Coimbra

Enquanto firmava seu nome no cenário musical da periferia paulistana, Fernanda colecionou colegas e canções. E muitas participações especiais em gravações de amigos como Cauê Procópio, Tati Botelho, Luis Barbosa, Fino do Rap, Lews Barbosa. Fez também backing vocal na Absolute Pink Floyd Cover, cantou na banda Mandioca Paulista com o Fino da Bossa... Por onde passa vai espalhando sua voz, garantindo sua vez.

O ano de 2013 foi um marco na montagem do repertório de Fernanda Coimbra. “O Daniel Fagundes fez uma canção sobre um episódio que de fato ocorreu em um bar onde fomos. Ele deu o nome de ‘Alma Vadia nº 2’, disse que a música tinha a minha cara, e deu pra eu gravar”, relata satisfeita. “Desde então eu venho guardando repertório com criações de amigos meus. O resultado disto é o que vou mostrar no show desta sexta-feira”, revela.
A acordeonista Nanda Guedes, que estará no palco hoje com Fernanda Coimbra, chegou à banda por meio do Facebook. “Eu concebi este show com acompanhamento de acordeon. Lancei um convite pelo Face, daí a compositora Lívia Barros fez a ponte entre a Nanda e eu”. Também é pelo Facebook que Fernanda resolve problemas práticos do show, seja para pedir um pedal emprestado, ou para contratar o percussionista no lugar do colega que não pôde manter o compromisso.
A lista de canções do espetáculo desta noite traz Chove (Gunnar Vargas), Alma Vadia nº 2 (Daniel Fagundes), Penugem Arapuca (Matheus Von Kruger), Despedida (Camila Brasil), Menezes (Juh Vieira), Vestido Preto (Gunnar Vargas), Because Ousa (Dani Black e João Garizo), Caminho (Gunnar Vargas), Meu Coração é um Muquifo (Juh Vieira), Daria um Samba (Jennifer Nascimento e Daniel Fagundes), De Protesto (Juh Vieira), Sete Laços (Lívia Barros, Bianca e Juá de Carvalho), e uma ou outra surpresa na hora dos bises.
Ouça a gravação de algumas destas composições aqui
Para contratar shows de Fernanda Coimbra, acesse

Serviço:
dia 5 de junho (sexta-feira), às 20h
Fernanda Coimbra e os Digníssimos
Nanda Guedes (acordeon), Abhul Junior (percussão), Danilo Viana (baixo)
Grátis
Fábrica de Cultura Jardim São Luís
Rua Antônio Ramos Rosa, 651 - São Paulo (SP)
(11) 5510-5530

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