O Grupo Clariô
de Teatro abriu no último dia 15 de agosto temporada pelo interior do Estado de
São Paulo com a peça Urubu Come Carniça e
Voa. A turnê começou pela cidade de Itapetininga, já passou por Avaré e
Jales, e segue até o próximo 13 de setembro, quando terá se apresentado em sete
municípios do oeste, norte e noroeste paulista.
O espetáculo foi
concebido sobre trechos da obra do poeta pernambucano Miró da Muribeca.
A primeira
montagem estreou em 21 de maio de 2011, no teatro-sede do Grupo Clariô em
Taboão da Serra. O elenco da peça foi premiado como o melhor daquele ano pela
Cooperativa Paulista de Teatro.
O Clariô se
apresentou no último 15 de agosto em Itapetininga, e no dia seguinte em Avaré.
Ontem, 6ª-feira
dia 28, foi a vez de Jales, no noroeste do Estado, a 586 km de distância da
sede do grupo. Neste sábado a peça é para o público de Martinópolis, e amanhã será
em Pompeia.
A trupe volta a
por o pé na estrada em 12 de setembro, para apresentação em Guararapes, a 545
km, e no dia seguinte em Bady Bassitt, finalizando o circuito.
Miró renascido
Depois
de sofrer crise aguda de alcoolismo, o poeta Miró da Muribeca, autor dos textos
que compõem Urubu Come Carniça e Voa,
lançou novo livro no último dia 6 de agosto, data do seu aniversário de 55
anos.
Com o título
adequado de aDeus, o livro recém-lançado de Miró reflete seu calvário desde
2012, quando perdeu a mãe de 87 anos. O alcoolismo que já era latente nele,
virou desenfreado.
Totalmente
entregue à bebida, Miró desabou em sua casa no último 14 de julho. Morava
sozinho em um prédio abandonado, esvaziado por ordem da Defesa Civil devido ao
risco de desmoronar.
Sabedor de seu
estado grave de dependência, Miró havia avisado ao dono do boteco para
procurá-lo caso demorasse a aparecer. Foi encontrado semimorto no chão. Pesava
apenas 49 kg.
A situação
degradante de Miró servia até para rodas de conversas de mau agouro no Mercado
da Boa Vista. Já faziam apostas sobre quanto tempo ele iria durar.
"Tá nascendo outro Miró que eu não sei ainda o que é", diz o poeta sobre si mesmo. Foto: Blenda Souto Maior |
Internado por 15
dias, perambulava pelos corredores murmurando: “Por que eu não posso criar
forças para não beber, pra não morrer?”. Superou o surto com a ajuda do médico
e escritor Wilson Freire, irmão do também escritor Marcelino Freire.
“A solidão fez com que eu esquecesse de mim.
Escrevi os poemas [do novo livro]
muito antes de ir para o hospital, mas eles têm tudo a ver com o que eu estava
passando, a loucura do álcool. O título já existia”, reflete Miró. O que
poderia ser um adeus à vida, pode ter-se tornado em aDeus ao álcool. “Tá
nascendo um Miró que eu não sei o que é ainda”, avalia.
Com
ajuda de amigos, ele deixou o bairro Muribeca, e se mudou para a Rua da
Alegria, no Centro. Rodeado de bares, garante ter deixado de beber. “Vai ser um
teste da porra porque tô no centro alcoólico do Recife”, brinca Miró, agora já
com 62 kg no físico e toneladas de esperança na cabeça.
Nascido João
Flávio Cordeiro, adotou Miró por pseudônimo em homenagem a um ex-jogador de
futebol recifense. Muribeca, onde o poeta viveu até o mês passado, é nome de um
bairro criado em torno de antigo lixão na região metropolitana do Recife.
Miró tem parte
de sua vida e obra registrada no filme documentário Preto, Pobre, poeta e Periférico, dirigido por Wilson Freire.
Também foi tese de mestrado na Universidade Federal de Pernambuco com “Corpoeticidade:
Poeta Miró e sua literatura performática”, de André Telles.
"A solidão fez com que eu esquecesse de mim", diz Miró. |
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