sábado, 29 de agosto de 2015

Grupo Clariô viaja com Urubu, e poeta Miró alça novos vôos em sua vida

O Grupo Clariô de Teatro abriu no último dia 15 de agosto temporada pelo interior do Estado de São Paulo com a peça Urubu Come Carniça e Voa. A turnê começou pela cidade de Itapetininga, já passou por Avaré e Jales, e segue até o próximo 13 de setembro, quando terá se apresentado em sete municípios do oeste, norte e noroeste paulista.
O espetáculo foi concebido sobre trechos da obra do poeta pernambucano Miró da Muribeca.
A primeira montagem estreou em 21 de maio de 2011, no teatro-sede do Grupo Clariô em Taboão da Serra. O elenco da peça foi premiado como o melhor daquele ano pela Cooperativa Paulista de Teatro.
O Clariô se apresentou no último 15 de agosto em Itapetininga, e no dia seguinte em Avaré.
Ontem, 6ª-feira dia 28, foi a vez de Jales, no noroeste do Estado, a 586 km de distância da sede do grupo. Neste sábado a peça é para o público de Martinópolis, e amanhã será em Pompeia.
A trupe volta a por o pé na estrada em 12 de setembro, para apresentação em Guararapes, a 545 km, e no dia seguinte em Bady Bassitt, finalizando o circuito.

Miró renascido
Depois de sofrer crise aguda de alcoolismo, o poeta Miró da Muribeca, autor dos textos que compõem Urubu Come Carniça e Voa, lançou novo livro no último dia 6 de agosto, data do seu aniversário de 55 anos.
Com o título adequado de aDeus, o livro recém-lançado de Miró reflete seu calvário desde 2012, quando perdeu a mãe de 87 anos. O alcoolismo que já era latente nele, virou desenfreado.
Totalmente entregue à bebida, Miró desabou em sua casa no último 14 de julho. Morava sozinho em um prédio abandonado, esvaziado por ordem da Defesa Civil devido ao risco de desmoronar.
Sabedor de seu estado grave de dependência, Miró havia avisado ao dono do boteco para procurá-lo caso demorasse a aparecer. Foi encontrado semimorto no chão. Pesava apenas 49 kg.
A situação degradante de Miró servia até para rodas de conversas de mau agouro no Mercado da Boa Vista. Já faziam apostas sobre quanto tempo ele iria durar.
"Tá nascendo outro Miró que eu não sei ainda o que é", 
diz o poeta sobre si mesmo. Foto: Blenda Souto Maior
Internado por 15 dias, perambulava pelos corredores murmurando: “Por que eu não posso criar forças para não beber, pra não morrer?”. Superou o surto com a ajuda do médico e escritor Wilson Freire, irmão do também escritor Marcelino Freire.
 “A solidão fez com que eu esquecesse de mim. Escrevi os poemas [do novo livro] muito antes de ir para o hospital, mas eles têm tudo a ver com o que eu estava passando, a loucura do álcool. O título já existia”, reflete Miró. O que poderia ser um adeus à vida, pode ter-se tornado em aDeus ao álcool. “Tá nascendo um Miró que eu não sei o que é ainda”, avalia.
Com ajuda de amigos, ele deixou o bairro Muribeca, e se mudou para a Rua da Alegria, no Centro. Rodeado de bares, garante ter deixado de beber. “Vai ser um teste da porra porque tô no centro alcoólico do Recife”, brinca Miró, agora já com 62 kg no físico e toneladas de esperança na cabeça.

Nascido João Flávio Cordeiro, adotou Miró por pseudônimo em homenagem a um ex-jogador de futebol recifense. Muribeca, onde o poeta viveu até o mês passado, é nome de um bairro criado em torno de antigo lixão na região metropolitana do Recife.
Miró tem parte de sua vida e obra registrada no filme documentário Preto, Pobre, poeta e Periférico, dirigido por Wilson Freire. Também foi tese de mestrado na Universidade Federal de Pernambuco com “Corpoeticidade: Poeta Miró e sua literatura performática”, de André Telles.
"A solidão fez com que eu esquecesse de mim", diz Miró.

Com informações dos repórteres Fellipe Torres e Diogo Guedes

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