Entrada
de Barra Longa ficou tomada pela lama em 2015
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Ponte Quindumba: único acesso pavimentado para o centro da cidade. Foto: David da Silva – 21.out.2017 |
David da Silva
O
prefeito Fernando José Carneiro Magalhães, que na época administrava Barra
Longa, conversava numa boa com Antonio Alcides, secretário de Administração e
Meio Ambiente, na porta do Bar do Nô às nove e meia da noite de 5 de novembro
de 2015. O papo tranquilo foi interrompido por um taxista esbaforido que
perguntou se estavam sabendo do estouro de uma barragem em Mariana, a 60 km
dali. Ninguém no bar tinha assistido ao Jornal Nacional. “Ninguém ligou pra
mim, nem da Samarco nem da prefeitura de Mariana”, disse o prefeito. O
comandante do destacamento local da PM, sargento Brandão, que passava ali na
frente do boteco, também acalmou a todos: não tinha recebido nenhum alerta dos
bombeiros. Horas depois um tsunami de lama com mais de 3 metros de altura
invadiu a praça principal da cidade.
Não teve para onde correr. A entrada da zona urbana é um gargalo, com a Ponte Quindumba muito estreita - um veículo por vez. Barra Longa ficou ilhada.
Não teve para onde correr. A entrada da zona urbana é um gargalo, com a Ponte Quindumba muito estreita - um veículo por vez. Barra Longa ficou ilhada.
É para
evitar surpresas como esta que o povo de Barra Longa quer a pavimentação de uma
estrada rural de 27 km com saída para o município vizinho Ponte Nova. A única
via asfaltada de acesso a Barra Longa dá de cara com o trajeto que a lamaceira
percorreu naquela trágica quinta-feira. Se a Barragem de Germano também se
romper, Barra Longa ficará isolada no lamaçal.
Dois
meses depois do estouro da Barragem do Fundão, que despejou 62 bilhões de m³ de
lama com rejeitos de minérios pela região, os barra-longuenses passaram por
outro sufoco. Em 27 de janeiro de 2016 soou na mina da Samarco o alerta de que
o remanescente de lama vazou. Era alarme falso. Mas o susto é bom professor. A
Samarco apresentou um Plano de Emergência, onde constava o asfaltamento da via
rural de 27 km de acesso à cidade vizinha.
Via rural de Barra Longa a Ponte Nova |
Em
novembro de 2016 a Samarco realizou um simulado de plano de fuga em caso de
novo rompimento de barragem. Mas o asfalto da via rural foi retirado da proposta
de reparações da mineradora para com suas vítimas.
“Faz
sentido um Plano de Fuga que desconsidera que os moradores ficarão isolados
caso a barragem estoure? Curiosamente, depois que levantamos esta questão após
a primeira simulação, este assunto desapareceu”, denuncia o cantor e compositor
Fafá da Barra, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Barra Longa.
O tema é um dos assuntos discutidos nas reuniões da Comissão de Atingidos e Atingidas organizadas pelo MAB com a presença do Ministério Público Federal (MPF).
O compositor resume bem o sentimento dos habitantes locais na atualidade: “Essa lama foi um monstro que a gente não sabia onde estava escondido. A gente não tinha noção do perigo que é uma barragem de minério em cima de nós”
O tema é um dos assuntos discutidos nas reuniões da Comissão de Atingidos e Atingidas organizadas pelo MAB com a presença do Ministério Público Federal (MPF).
O compositor resume bem o sentimento dos habitantes locais na atualidade: “Essa lama foi um monstro que a gente não sabia onde estava escondido. A gente não tinha noção do perigo que é uma barragem de minério em cima de nós”
A
estreitíssima Ponte Quindumba é a única entrada com asfalto para a zona urbana
de Barra Longa. Foto: David da Silva
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