Lama engoliu casas e lavouras em Gesteira, distrito de Barra Longa (MG). Abaixo, casa erguida em pilares teve lama na altura das janelas. Foto: David da Silva - 17.out.2017
David da Silva
Uma
das táticas da mineradora Samarco para negociar com atingidos pela lama em
Barra Longa (MG) era conversar com cada família isoladamente, para evitar negociações coletivas. Foi o caso de um agricultor de 69 anos, morador do
distrito Gesteira Velha, a 15 km do centro da cidade. Sua propriedade de
1.000 m² foi completamente coberta pela lama na madrugada de 6 de novembro de
2015. A lama com rejeitos de minérios provinha da Barragem de Fundão que
estourou no dia anterior, a 60 km de distância. O lamaçal chegou a oito metros
de altura em Gesteira.
Para pagar os prejuízos das vítimas, foi criado o Programa de Indenização Mediada. “O problema é que cada família preenchia sozinha, sem nenhum acompanhamento técnico, um formulário enviado pela Samarco com perguntas complexas”, aponta Thiago Alves, do Movimento dos Atingidos por Barragens. Além de não contar com ajuda de pessoas mais esclarecidas para preencher o formulário, as vítimas também tinham de ir sem acompanhantes ao escritório da Samarco na área urbana de Barra Longa.
Escritório da Samarco em Barra Longa. O nome "Fundação Renova" é fachada para negociar com as vítimas. Foto: David da Silva - 21.out.2017
Com o caderno de respostas na mão, o casal de idosos foi à Samarco. “Levaram a gente de carro até lá”, conta a mulher de 64 anos. Os técnicos da mineradora entregaram a eles uma folha com proposta de valores a serem pagos tanto pelo terreno quanto pela plantação perdida.
A Samarco é controlada pela BHP Billiton, maior mineradora do mundo. Mesmo assim ofereceram uma indenização miserável. “Queriam pagar 33 centavos para cada touceira de cana que eu perdi. E os pés de mandioca queriam pagar só R$ 1,19 (um real e dezenove centavos) cada pé. Minhas canas davam 3 metros de altura. E um pé de mandioca não dá só um quilo. Tem deles que dá 20 kg”, critica o agricultor.
O
casal mora em Gesteira há 45 anos. “Nada do que a gente planta é para vender. É
consumo nosso”, afirma.
A proposta para os atingidos da Gesteira Velha é ter suas casas reconstruídas em outro terreno, longe de onde sempre viveram.
O
reassentamento dessas vítimas está previsto apenas para o final de 2019.
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