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Adryelle Ferreira; ao fundo, a casa demolida Fotos: David da Silva | Reprodução |
Em
uma das vistorias à construção do Parque Linear Ponte Alta em meados de 2023, o
ex-prefeito de Taboão da Serra José Aprígio bateu palma no portão de Adryelle
Ferreira. "Ainda morávamos no São Judas. Fazia poucos dias que o fiscal tinha
entregado a notificação pra gente sair de lá. No momento da obra, Aprígio me
chamou e falou: ‘meu objetivo não precisa demolir a casa, apenas o quintal e a
garagem, pois vou conseguir passar a rua e deixar sua casa. Só precisamos que
vocês saiam até a gente passar as tubulações, pra não acontecer de a casa ceder
por conta das máquinas’”, lembra a moradora.
Confiante
na autoridade, Adryelle, na época com 21 anos, transmitiu pelo whatsapp a
boa-nova para sua mãe.
Ivanilda
Ferreira da Silva lembrou-se do episódio em 10.nov.2010, quando a Sabesp
assinou um contrato com sua família responsabilizando-se por eventuais danos à
moradia devido à instalação do Coletor Tronco de Esgotos Ponte Alta que passa
sob o terreno. “Achei que com a prefeitura seria a mesma coisa”, relata.
Dias
depois, a constatação: o parque linear iria deixar vítimas.
A
notificação entregue em 06.jun.2023 não estabelecia prazos. Dizia que a área
havia sido declarada de utilidade pública pela Secretaria de Habitação. “De
repente veio um homem da obra: ‘A casa de vocês vai ser derrubada dia 13’.
Falamos pra ele o que o prefeito tinha nos garantido. Mas não teve jeito. Isso
era 10 de agosto de 2023”, conta Adryelle.
Prática vedada
A
família Ferreira da Silva detém um contrato de concessão de direito real de uso
da área onde morava, assinado em setembro/1992 pelo ex-prefeito Armando
Andrade.
O
caso se assemelha ao ocorrido em março/2025, quando a Defensoria Pública do Estado
do Rio Grande do Sul (DPE-RS) suspendeu uma reintegração de posse de área
pública municipal: “o local estava abandonado antes da ocupação, sem qualquer
uso ou manutenção por parte do ente público. Além disso, a família recebeu
autorização de uso do imóvel do antigo chefe do Poder Executivo Municipal”, diz
o texto publicado no site da DPE-RS.
Segundo
o defensor público que atuou no processo, “a remoção sem planejamento ou
alternativa habitacional configura despejo forçado, prática vedada pelo Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) e pelo
Comentário Geral n° 7 do Comitê de Direitos Humanos da ONU”.
Uma
fonte consultada pelo blog bar&lanches taboão explica que “em casos de
despejo de famílias em situação de vulnerabilidade, pode ser exigido pela
Justiça que a prefeitura ofereça um planejamento e alternativa habitacional
antes da desocupação forçada, para não violar o direito à moradia”.
A
moradora taboanense lamenta: “Se eu soubesse disso na época, teria ido atrás dos
meus direitos”.
A
Prefeitura de Taboão da Serra não ofereceu nem caminhão para ajudar na mudança.
Nesta
4ª-feira (8), Adryelle recebeu mensagem de uma assistente social da prefeitura,
para “falar com você sobre um contrato de concessão”.
“Eu não sabia”
Por
telefone na tarde de ontem, o blog perguntou ao vereador Sandro Ayres se ele
conhecia a concessão emitida pela Prefeitura de Taboão dando aos Ferreira da
Silva o direito de morar no local. “Eu não sabia”, disse ele.
A passagem de uma rua por aquela área, ligando os bairros São Judas e Maria Helena, foi proposta pelo vereador por meio da Indicação nº 247/2021.
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A todo vapor. Propaganda política mostra máquina removendo os escombros da casa demolida em agosto/2023 |
4 comentários:
Lamentável prejudicar essa família desta maneira, mas é o retrato do país que não oferece estudo de qualidade desde a base e ai se aproveitam para passar qualquer conversa errada e destrói de maneira ilegal a moradia desta família e de muitas outras, espero que resolvam de maneira justa o problemão plantado para esta família, bem que dizem que neste país não existe segurança jurídica, pois uma família com contrato na mão, teve sua casa demolida.
É mais seguro confiar num acordo feito por Satanás do que feito por qualquer político.
acordo onde não existe um mísero documento? Acreditar na palavra de um político que foi capaz de participar da armação contra a própria vida? Muita ingenuidade
Detalhe, no final de todo o problema nunca fizeram rua ou passagem alguma nesse trecho. Vergonha administrativa típica de Taboão da Serra.
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