David da Silva
“Pega
tuas coisas, e vai embora”. Não com essas mesmas palavras, mas com essa mesma
brutalidade a Prefeitura de Taboão da Serra tirou Ivanilda, o marido e quatro filhos
da área onde a família Ferreira da Silva morava no Jd São Judas desde 1992. O
despejo foi em agosto de 2023. Hoje, eles moram no bairro Saint Moritz pagando
R$ 1.300,00 por mês, com auxílio-aluguel da prefeitura de R$ 400,00.
Ivanilda
Ferreira da Silva, 46 anos, é diarista, e sai de casa às 4h30 da madrugada para
pegar o primeiro ônibus. O marido Eduardo, 52 anos, é pintor de autos,
atualmente desempregado. O fiscal da prefeitura bateu à porta deles no dia
06.junho.2023. “Na época, eles falaram que iria precisar [desapropriar] apenas
nosso quintal e nossa garagem pra poder passar uma rua por aqui ligando a Rua
Javan Lessa com o Jd Maria Helena. Mas, demoliu tudo”, conta Adryelle Ferreira,
23 anos, filha de Ivanilda.
Assim
que a família foi notificada, a prefeitura manteve um trator parado na porta de
Ivanilda, para fazer pressão: “A gente teve que sair no susto”. A casa foi
derrubada em 13.ago.2023. “Não tivemos apoio da Assistência Social, nem a
prefeitura ajudou com caminhão de mudança. Levamos os móveis para a casa
alugada aos pouquinhos, usando automóvel. Numa noite entraram na casa e
roubaram vários pertences nossos”, lamenta.
“Eu
rodei muito por aí, procurando casa”, conta Eduardo. ”A prefeitura falou pra eu
arrumar lugar por R$ 400, mas com isso não se aluga um cômodo; temos filha
pequena e animais de estimação. Muitos proprietários não aceitam crianças nem pets”.
Desde
10.ago.2023 estão no imóvel do Jd Saint Moritz. O aluguel já teve um reajuste,
mas o auxílio da prefeitura permanece no mesmo valor.
#partiudenunciar
Nos
787 dias em que está morando na casa de aluguel, Adryelle não parou um minuto
de pensar na falta de empatia das autoridades. “O próprio Aprígio [ex-prefeito
no período 2021-2024] falou pra mim que só iam tirar nosso quintal e a garagem”,
diz inconformada.
Na
noite de 1º de outubro, o copo de mágoas transbordou. Adryelle saiu de casa ‘do
jeito que tava’, chinelo de dedo, a cabeleira ruiva ao vento e foi gravar um
assunto nada instagramável.
O
vídeo bombou. Tinha 130 mil visualizações às 6h05 da manhã desta 2ª-feira (6). “Perdi
o imóvel que construí com tanto esforço, perdi a segurança da minha família e,
desde então, sou obrigada a pagar aluguel. Não nos indenizaram pelos anos tudo
que a gente investiu, nem nos deram uma moradia apropriada”, diz o post na
página onde a garota tem 13.662 seguidores.
Bota-fora
Passados
dois anos e dois meses da saída da família de Ivanilda, a reportagem encontrou
o terreno abandonado neste domingo (5). “Moro nesta rua há um ano, e posso
afirmar que hoje em dia esse local só serve para queimadas, descarte de entulho
e uso de drogas”, diz a moradora Maria Ribas. Um cheiro de bicho morto domina o ambiente.
Foto: David da Silva - 05.out.2025
Além
da casa de Ivanilda, a prefeitura derrubou a casa onde o motorista Ivanaldo, 50
anos, morava com a esposa e duas filhas na época com 11 anos e 7 anos. Também
foi demolida a casa de Josefa de Jesus Bezerra, 55 anos, que morou no local por
33 anos. “A gente era em cinco”, conta.
Ao
todo, 15 pessoas ficaram sem teto em pouquíssimos dias.
A
mãe de Ivanilda e os dois vizinhos ganharam a concessão de direito real de uso
daquela área em setembro de 1992, assinada pelo então prefeito Armando Andrade.
Morador
do mesmo bairro, o vereador Sandro Ayres não é citado nominalmente no vídeo de
Adryelle. Mas internautas o apontam nos comentários do instagram como ‘parceiro’
de Aprígio na demolição. Ayres diz em mensagem a Adryelle: “É importante
frisar: o prefeito em questão não foi o candidato que defendi nas urnas em
2020, e eu jamais tive qualquer vínculo de comando ou ingerência sobre as suas
decisões administrativas”.
“Se
o senhor tivesse levado o meu caso até à Câmara, eu teria hoje uma resposta,
mas o senhor prefere me processar por eu correr atrás dos direitos da minha
família”, responde ela.
O
vereador retruca: “caso a publicação seja mantida, serei obrigado a encaminhar
o caso à Procuradoria da Câmara Municipal, não com a intenção de processar ou
perseguir, mas para que o vídeo seja removido”.
No fechamento desta reportagem,
o vídeo havia subido para 131 mil visualizações.
3 comentários:
Isso é um caso muito sério.. tem que ser resolvido, família digna que trabalha pra sobreviver, são simples e humildes...
Tenho certeza que esse Sandro Ayres trabalhou nos bastidores para que essas demolições ocorressem. É um sujeito ruim e vingativo, que persegue quem é contra seus desmandos.
Não dá para entender como uma família deixa um trator derrubar sua moradia, tendo documento assinado pelo ex Prefeito Armando de Andrade, se fosse minha família jamais deixaríamos e não sairíamos do lar por nada deste mundo.
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