segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Família despejada pela Prefeitura de Taboão aguarda solução há mais de dois anos

Moradores expulsos da área no bairro São Judas.
Fotos: David da Silva - 05.out.2025

David da Silva

“Pega tuas coisas, e vai embora”. Não com essas mesmas palavras, mas com essa mesma brutalidade a Prefeitura de Taboão da Serra tirou Ivanilda, o marido e quatro filhos da área onde a família Ferreira da Silva morava no Jd São Judas desde 1992. O despejo foi em agosto de 2023. Hoje, eles moram no bairro Saint Moritz pagando R$ 1.300,00 por mês, com auxílio-aluguel da prefeitura de R$ 400,00.

Ivanilda Ferreira da Silva, 46 anos, é diarista, e sai de casa às 4h30 da madrugada para pegar o primeiro ônibus. O marido Eduardo, 52 anos, é pintor de autos, atualmente desempregado. O fiscal da prefeitura bateu à porta deles no dia 06.junho.2023. “Na época, eles falaram que iria precisar [desapropriar] apenas nosso quintal e nossa garagem pra poder passar uma rua por aqui ligando a Rua Javan Lessa com o Jd Maria Helena. Mas, demoliu tudo”, conta Adryelle Ferreira, 23 anos, filha de Ivanilda.

Assim que a família foi notificada, a prefeitura manteve um trator parado na porta de Ivanilda, para fazer pressão: “A gente teve que sair no susto”. A casa foi derrubada em 13.ago.2023. “Não tivemos apoio da Assistência Social, nem a prefeitura ajudou com caminhão de mudança. Levamos os móveis para a casa alugada aos pouquinhos, usando automóvel. Numa noite entraram na casa e roubaram vários pertences nossos”, lamenta.

“Eu rodei muito por aí, procurando casa”, conta Eduardo. ”A prefeitura falou pra eu arrumar lugar por R$ 400, mas com isso não se aluga um cômodo; temos filha pequena e animais de estimação. Muitos proprietários não aceitam crianças nem pets”.

Desde 10.ago.2023 estão no imóvel do Jd Saint Moritz. O aluguel já teve um reajuste, mas o auxílio da prefeitura permanece no mesmo valor.

#partiudenunciar

Nos 787 dias em que está morando na casa de aluguel, Adryelle não parou um minuto de pensar na falta de empatia das autoridades. “O próprio Aprígio [ex-prefeito no período 2021-2024] falou pra mim que só iam tirar nosso quintal e a garagem”, diz inconformada.

Na noite de 1º de outubro, o copo de mágoas transbordou. Adryelle saiu de casa ‘do jeito que tava’, chinelo de dedo, a cabeleira ruiva ao vento e foi gravar um assunto nada instagramável.

O vídeo bombou. Tinha 130 mil visualizações às 6h05 da manhã desta 2ª-feira (6). “Perdi o imóvel que construí com tanto esforço, perdi a segurança da minha família e, desde então, sou obrigada a pagar aluguel. Não nos indenizaram pelos anos tudo que a gente investiu, nem nos deram uma moradia apropriada”, diz o post na página onde a garota tem 13.662 seguidores.

Bota-fora

Passados dois anos e dois meses da saída da família de Ivanilda, a reportagem encontrou o terreno abandonado neste domingo (5). “Moro nesta rua há um ano, e posso afirmar que hoje em dia esse local só serve para queimadas, descarte de entulho e uso de drogas”, diz a moradora Maria Ribas. Um cheiro de bicho morto domina o ambiente.

Foto: David da Silva - 05.out.2025

Além da casa de Ivanilda, a prefeitura derrubou a casa onde o motorista Ivanaldo, 50 anos, morava com a esposa e duas filhas na época com 11 anos e 7 anos. Também foi demolida a casa de Josefa de Jesus Bezerra, 55 anos, que morou no local por 33 anos. “A gente era em cinco”, conta.

Ao todo, 15 pessoas ficaram sem teto em pouquíssimos dias.

A mãe de Ivanilda e os dois vizinhos ganharam a concessão de direito real de uso daquela área em setembro de 1992, assinada pelo então prefeito Armando Andrade.

Morador do mesmo bairro, o vereador Sandro Ayres não é citado nominalmente no vídeo de Adryelle. Mas internautas o apontam nos comentários do instagram como ‘parceiro’ de Aprígio na demolição. Ayres diz em mensagem a Adryelle: “É importante frisar: o prefeito em questão não foi o candidato que defendi nas urnas em 2020, e eu jamais tive qualquer vínculo de comando ou ingerência sobre as suas decisões administrativas”.

“Se o senhor tivesse levado o meu caso até à Câmara, eu teria hoje uma resposta, mas o senhor prefere me processar por eu correr atrás dos direitos da minha família”, responde ela.

O vereador retruca: “caso a publicação seja mantida, serei obrigado a encaminhar o caso à Procuradoria da Câmara Municipal, não com a intenção de processar ou perseguir, mas para que o vídeo seja removido”.

No fechamento desta reportagem, o vídeo havia subido para 131 mil visualizações.

3 comentários:

Anônimo disse...

Isso é um caso muito sério.. tem que ser resolvido, família digna que trabalha pra sobreviver, são simples e humildes...

Anônimo disse...

Tenho certeza que esse Sandro Ayres trabalhou nos bastidores para que essas demolições ocorressem. É um sujeito ruim e vingativo, que persegue quem é contra seus desmandos.

Anônimo disse...

Não dá para entender como uma família deixa um trator derrubar sua moradia, tendo documento assinado pelo ex Prefeito Armando de Andrade, se fosse minha família jamais deixaríamos e não sairíamos do lar por nada deste mundo.