Elisabeth Nunes - Foto: Reprodução | Facebook |
Por Elisabeth Nunes
Hora de ir para a cama.
Sonhar acordada é algo que me satisfaz até o sono vir.
Travesseiro de penas de
ganso, cabeça ajeitadinha e fechando os olhos.
Delícia! Hora de sonhar.
“Hei! Que barulho é esse!?”
Criiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii,
criiiiiiiiiiiiiiiiii,criiiiiiiiiiiiiii!
Levanto assustada olhando
ao redor. Marido trabalhando à noite. Filhos dormindo.
“De onde vem esse
barulho”?
Deito novamente e me
concentro.
Criiiiiiiiiiiiiiiiiiii,
Criiiiiiiiiiiiiiiiiii!
- Serão grilos na fora? – Falo
para mim mesma.
Levanto. Abro a porta.
Olho o milharal no quintal.
Acordo meu filho e pergunto:
-Denis, está escutando
algum grilo?
-Não mãe, não tem nenhum
grilo cantando.
-Nenhum barulho?
-Não, mãe. Tá o maior
silêncio.
Apaguo a luz e deito com o
“cri” na cabeça.
Ao amanhecer não escuto
mais o “cri”.
Estranho... Muito
estranho...
A noite chega. E com ela
outro barulho.
Trummmm, trummmm,
trummmmm!
Levanto assustada. Caminho
pela casa e tento descobrir de onde vem.
Paro no meio da cozinha. Presto
atenção.
“É impressão ou o barulho
está dentro da minha cabeça?”
- Denis! Está escutando um barulho de carro
com escapamento furado?
- Não, mãe. Por que a
senhora pergunta isto?
- Estou ouvindo aqui
dentro da cabeça.
- Não tem barulho nenhum.
Pronto! Confirmou minha
suspeita. Não existe barulho. O problema está em mim.
Vamos dormir escutando
carro com escapamento furado?
Sonho dirigindo uma
Ferrari em alta velocidade, com escapamento furado.
Marido almoçando. Aproveito
para tirar minha dúvida.
- Amor, estou escutando
barulhos à noite.
- Que barulho?
- Há dois dias ouvi como
se fossem grilos. Ontem como um carro com escapamento furado. Procuro, procuro,
mas parece que está aqui dentro da cabeça ou, talvez, no ouvido. O Denis falou
que não ouve nada.
Agora, por exemplo, não
estou ouvindo.
Vamos ver se essa noite eu
ouço algo. Estou preocupada de verdade.
- Vá ao médico. Meu amigo
reclama de um zumbido constante.
- Será que preciso ir ao
médico?
- Fica atenta. Se
continuar o barulho, precisa ir ao otorrino.
Fico cabisbaixa. Pensando em
algum problema sério.
Mas ao mesmo tempo feliz.
Meu marido não trabalharia
à noite desse dia e poderia compartilhar com ele minha dúvida.
Tudo pronto para deitar.
Vamos ver se acontece
novamente.
Dei risada fechando os
olhos. Coisa de louco, mas levo as coisas na esportiva.
Em poucos minutos o
barulho chega aos ouvidos. Dessa vez uma sirene.
Nem sei descrever, mas era
uma sirene com um som bem agudo.
Uau, uau, uau, uau, uau,
uau...
Sem fim, não parava.
Levantei e acordei meu
esposo perguntando:
- Está ouvindo uma sirene?
Levantou e ficou prestando
atenção, olhando para o alto.
Abriu a janela e olhando
para mim disse:
- Não tem nenhuma sirene.
Nem lá fora como aqui dentro. Não existe barulho nenhum.
Coloquei as mãos nos dois
ouvidos e tapei. A sirene estava lá dentro da minha cabeça.
- Tudo bem. Vou procurar
um médico. Será que estou ficando louca?
Deitei e comecei a
imaginar eu dentro de uma ambulância (já que estava me achando louca), indo ao
hospital.
Mas então virei heroína no
sonho acordada. Afinal, já que sou a dona do sonho, quero sair ganhando. Subi
na ambulância e retirei a sirene.
Joguei muito longe.
Mas ela voltou dentro da
minha cabeça.
2 comentários:
De noite, ele vem. Sim o zumbido vem. E quero que saibam que lido muito bem com ele. Com certeza tenho momentos de tristeza, mas logo estou sorrindo. Porque? Porque não existe cura, porque ele não irá me matar e porque quero viver intensamente! Espero que tenha utilidade minha história de vida.
Que eu possa servir de exemplo para pessoas que sofrem de zumbido. Continuarei contando sempre um pedacinho desse zum que ja faz parte da minha vida á 23 anos.
Bety querida!
Te conheço a muitos anos, inclusive nos falamos sempre sua ""doença", mesmo assim fiquei emocionado com o seu relato e com sua garra pelo bem viver.
Você é uma guerreira, minha "S" preferida.
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