"As rosas não falam”, diz Cartola. Mas os tomateiros mandam recados
O tomate foi domesticado pelos incas do Peru, e
teve sua lavoura expandida pelos maias e astecas do México. Seu nome nome no
idioma asteca é “tomatl” |
Em novembro de 2013 cientistas japoneses divulgaram
uma experiência encantadora. Colocaram potes com tomateiros em dois recipientes
de vidro, ligados por um tubo para passagem de ar. Depositaram larvas de
insetos herbívoros nas folhas do primeiro grupo de plantas. Por duas horas as
larvas devoraram os tomateiros. Durante todo este tempo, os tomateiros do
segundo recipiente ficaram recebendo o ar que vinha dos tomateiros atacados.
Terminado o experimento, os cientistas colocaram
larvas herbívoras nos tomateiros do segundo recipiente, e recolocaram larvas
naqueles que já tinham sofrido ataque. Verificaram que os tomateiros do segundo
lote estavam imunes às larvas, enquanto seus “colegas” permaneciam vítimas da
fome insaciável dos filhotes de insetos.
Para saber o que estava protegendo as plantas do
segundo recipiente, compararam as moléculas das folhas atacadas com as das
plantas imunes.
Descobriram que nos tomateiros resistentes havia
uma molécula a mais, chamada HexVic. Para saber se era mesmo esta molécula a
valente defensora dos tomateiros do segundo grupo, adicionaram HexVic na dieta
das larvas. Não deu outra. Elas morriam mais depressa, ou não se desenvolviam
bem.
Mas... como é que o HexVic foi parar nos tomateiros
do segundo grupo?
Recolheram moléculas do ar daquele tubo de
passagem, e nelas descobriram uma molécula bem parecida com o HexVic. Marcaram
os átomos desta molécula, e borrifaram nas folhas das plantas sadias. Quando recolheram
o HexVic, ele continha aqueles mesmos átomos marcados.
Conclusão: ao serem atacados, os tomateiros do
primeiro recipiente liberaram no ar uma substância que foi parar sobre seus
vizinhos. Ao receberem esse sinal químico, capturaram a molécula precursora e
“fabricaram” seu próprio defensivo agrícola, o HexVic.
Esta experiência maravilhosa aconteceu no Departamento de Nutrição e Ciências da Vida, do Instituto de Tecnologia Kanagawa, Japão.
Pablo Neruda na sua ode ao tomate disse que este
fruto cor de fogo pega o verão pela cintura, invade as cozinhas, e senta
repousado nas travessas. Cabe a nós, infelizmente, assassiná-lo; afundar a faca
na sua polpa viva, abri-lo em dois hemisférios de vermelho víscera. Para
Neruda, o tomate tem luz própria; é um sol fresco, profundo, inesgotável.
Casa-se alegremente com a branca cebola.
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