segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Jovem de Taboão da Serra está preso por engano, afirma diretor de escola

Victor Hugo - Reprodução do Facebook
David da Silva

Dois roubos a residências na cidade de Jundiaí (SP) na noite do último 1º de março estão sendo atribuídos a Victor Hugo Campos Terkeli, de 19 anos. Porém, na data e no horário da ocorrência ele estava na sua sala de aula aqui em Taboão da Serra, a 68 quilômetros de distância do local do delito.
Os roubos aconteceram por volta das 20h30. Quem garante que o aluno estava dentro da unidade de ensino no período das 19h às 23h é o próprio diretor da Escola Estadual Neusa Demétrio, onde Victor Hugo cursa o 3º ano do ensino médio.

Os assaltantes eram quatro homens encapuzados. A juíza Jane Rute Nalini Anderson acreditou no depoimento de duas vítimas (uma delas, também juíza), que disseram ter reconhecido o rapaz pelos olhos, através do buraco do capuz.
Ao julgar um caso idêntico a este, em 2015 o Tribunal de Justiça de São Paulo absolveu por unanimidade um homem que foi igualmente preso acusado de ser reconhecido num assalto pela abertura da touca ninja.

Do trabalho para a aula

Naquela 5ª-feira 1º de março de 2018, Victor Hugo saiu de manhã para a firma de confecções onde entra às 7h e trabalha como auxiliar de produção. O relógio de ponto registra que o rapaz encerrou sua jornada às 17h40. Além de disponibilizar para a Justiça os registros dos horários de entrada e saída, a empresa emitiu uma declaração em favor do funcionário segundo a qual “ao longo do seu contrato sempre manteve um bom comportamento profissional, competente, pontual e ético”.
Após o serviço, Victor passou em sua casa no Jardim Panorama, faz um lanche e seguiu para a escola.
Aluno estava dentro da escola quando foi acusado de estar em Jundiaí
A torre da discórdia

A polícia de Jundiaí investigou as chamadas feitas por meio da torre telefônica mais próxima à casa da juíza roubada. Um dos celulares era de Taboão da Serra. Era o marceneiro Miguel Terkeli, 56 anos, pai de Victor, ligando para seu outro filho, Tiago, que estava naquele dia trabalhando em Jundiaí com um empreiteiro de obras também de Taboão da Serra.
O azar de Victor Hugo é que seu irmão Tiago, 32 anos, já tem antecedentes. Seu Miguel admite que o filho maior “durante a adolescência quebrou um pouco a cara, deu um pouco de dor de cabeça e teve passagem pela polícia...”.
A polícia vinculou o passado de Tiago com o presente do irmão menor, e resolveu prender os dois no dia 12 de junho. Eles aguardam julgamento no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Jundiaí.
Os outros suspeitos presos são Miguel Azevedo Ramos, 29 anos, com quem a polícia encontrou um dos celulares roubados, e Alex Sandro Ferreira da Silva Catuaba, 38 anos, que também tem antecedente criminal.

Revolta

No sábado passado, 1º de setembro, um grupo de colegas de escola, vizinhos e familiares de Victor Hugo fizeram manifestação na BR-116 pedindo sua libertação.
O diretor da escola onde Victor Hugo estuda vai ser sua testemunha de defesa quando a juíza marcar a audiência.

Segredo de Justiça?
Procurados pela reportagem, a Secretaria de Segurança, o Ministério Público e o Tribunal de Justiça de São Paulo afirmam que não comentam o caso por estar em segredo de justiça.
Tem segredo nenhum.
Semanas atrás, no dia 17 de agosto o Diário Oficial do Estado de São Paulo publicou, na página 1.480 da Primeira Instância do Interior parte 2, edital da juíza Jane Rute Nalini Anderson sobre a movimentação mais recente do processo. Leia aqui

Outros erros
O caso idêntico de reconhecimento com base na área dos olhos, ocorrido no ano 2007 em Tatuí, interior de São Paulo, foi julgado em 2015 pelo Tribunal de Justiça paulista.
A desembargadora relatora do processo admitiu que a região dos olhos do injustiçado não tinha nenhuma marca de pele, verruga ou cicatriz, que permitisse que ele fosse apontado como suspeito sem nenhuma sombra de dúvidas.
Faça o download com a íntegra da decisão judicial aqui

Manchete do site Consultor Jurídico sobre caso semelhante ao de Victor Hugo


No ano 2011 publiquei aqui no blog outro caso de um morador de Taboão da Serra preso injustamente devido a erros na investigação policial. Relembre

3 comentários:

Anônimo disse...

Até o ladrão ser de Taboão da Serra tudo bem mas uma juíza dizer que fez o reconhecimento pelos olhos...pelo amor.Pior que não0 sente vergonha de uma afirmação dessa.
Teste de sanidade mental urgente.

Boa sr.jornalista.
Que absurdo. Não dá para acreditar numa historia dessa.

Anônimo disse...

Nossa , é muito dificil uma situação dessa , tudo pode re falta de sorte ou pode ser que o irmaõ está pagando o que o outro vez sozinho.
Sò DEUS sabe da verdade .

Unknown disse...

Como está o processo hoje 20/10?