Clínica de implantes
de silicone estava desde 2012 a mil metros da Prefeitura de Taboão da Serra
A Prefeitura de Taboão da Serra só se ligou no que acontecia no número 31 da Rua Marrocos depois que a Clínica Paulino virou caso de polícia. O estabelecimento, que fazia implantes criminosos de silicone, funcionava a três minutos da sede da administração municipal. A clínica foi interditada pela Vigilância Sanitária no último dia 2 de fevereiro. Mas a gestão do prefeito Aprígio não divulgou o fato, o que poderia servir de alerta para futuras vítimas. Quem não sabia o que faziam ali dentro, morreu sem ficar sabendo.
Foi o caso de Lorena Batista Muniz. O travesti de 25 anos
veio de Recife (PE) para São Paulo no dia 17 de fevereiro deste ano com
cirurgia marcada na Rua Marrocos, Parque Monte Alegre, para implante de
silicone no peito por R$ 4 mil. Devido à interdição da clínica pela Prefeitura
de Taboão da Serra a operação foi transferida para a Rua da Glória, no bairro Liberdade,
região central de São Paulo. No endereço funciona a Clínica Saúde Aqui, quase
uma referência nacional entre travestis pelos preços baixos dos procedimentos
cirúrgicos. Ainda sob o efeito da anestesia Lorena foi abandonada na mesa de
cirurgia pelos funcionários que fugiram de um incêndio na clínica. Morreu cinco
dias depois por ter inalado muita fumaça tóxica.
Lorena não sabia o por quê da mudança de local para colocar
seu silicone. “Se tivesse saído alguma coisa no jornal quando a prefeitura
fechou a clínica, ela poderia ter se ligado que tinha coisa errada”, diz
Thamirez, travesti que faz ponto na região do bairro Campo Limpo, vizinho a
Taboão. “Muitas meninas daqui puseram peito e bunda lá”, refere-se à “Clínica
do Paulino” como é conhecida no meio transsexual.
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Não era a primeira vez que rolavam rumores sobre o fechamento da clínica. Em outubro de 2020, ainda na gestão do ex-prefeito Fernando Fernandes, correu forte o comentário de que “fecharam a Clínica do Paulino”. E isto começou a atrapalhar os negócios. A organização criminosa foi às redes sociais tentar se explicar (veja imagem abaixo). E, num ato falho, mostraram publicamente que a clínica de Taboão da Serra tinha tentáculos espalhados pela capital.
Clínica ironizava os
comentários de que a prefeitura iria lacrar sua porta
Fugir dos fóruns é tática costumeira da Clínica Paulino.
Desde 22 de fevereiro de 2017 Bianca Simões Pinto busca restituição dos R$
2.500 que pagou por um serviço mal feito. Em 12 de setembro de 2019 foi a vez
de Leidiane Aparecida de Assis abrir processo contra a clínica, que foi condenada
a ressarcir R$ 4.500 por prejuízo material e R$ 5 mil por danos morais. Não
recebeu até hoje.
Também há processos contra a Clínica Paulino na Justiça do Trabalho. Há exatos dois anos, em 11 de abril de 2019 a clínica teve sofás, poltronas, televisor, mesinha de centro e carrinho de anestesia confiscados do seu endereço em Taboão da Serra e leiloados para quitar dívidas judiciais.
Clínica Paulino lacrada
no bairro Pq Monte Alegre
Paulino de Souza
Porta de delegacia
Em 2019 um travesti abriu um boletim de ocorrência contra a
Clínica Paulino no 39º DP (Vila Gustavo, zona norte de São Paulo). O B.O. virou
inquérito que apura “exercício ilegal da medicina e falsificação de documento”.
A investigação está em curso; recentemente
foi solicitado à Justiça mandado de busca e apreensão na clínica lacrada da Rua
Marrocos, nº 31. A equipe do 1º DP de Taboão da Serra vai executar o serviço
nos próximos dias.
Interdição
A interdição da Clínica Paulino em 2 de fevereiro pela
Vigilância Sanitária de Taboão da Serra foi silenciosa. A gestão do prefeito
Aprígio tratou o caso como assunto burocrático. Na data da ocorrência não foram
distribuídas à imprensa informações sobre o que se praticava naquele local.
Os agentes da prefeitura encontraram instrumentos cirúrgicos
sem data de esterilização, falta de produtos de limpeza, e materiais metálicos
enferrujados. Não havia sabonete
líquido, papel toalha, nem lixeira em ambientes de esterilização. A geladeira
continha medicamentos vencidos, e sem controle de temperatura. O plano de gerenciamento
de resíduos, ausente, assim como licença válida perante a Vigilância Sanitária.
Entre a data que a prefeitura fez esse flagrante e a publicação do Auto de Infração na Imprensa Oficial do Município, transcorreram 37 dias. Tempo suficiente para Lorena Muniz viajar de Pernambuco até a arapuca onde perdeu a sua vida.
Providência da
Prefeitura de Taboão da Serra contra a clínica no dia 2 de fevereiro só foi
publicada em 10 de março
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