quarta-feira, 14 de julho de 2021

Base de segurança no Largo do Taboão está em local proibido

Carreta da GCM está estacionada em cima de oleoduto. Foto: David da Silva - 13.jul.2021
 David da Silva*

Em cima de dutos que transportam gás, óleo diesel e gasolina. Embaixo de uma linha elétrica de 88 mil volts. Este o local escolhido por José Aprígio para instalar uma base de segurança da Guarda Civil Municipal (GCM) no Largo do Taboão, no limite do município de Taboão da Serra com São Paulo.

A base “inaugurada” no último 10 de junho funciona dentro de uma carreta não acoplada a cavalo mecânico, o que impede sua rápida retirada em caso de emergência. O espaço debaixo de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica deve ficar desimpedido para serviços de manutenção, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Antes de ser depositada na entrada de Taboão da Serra, a carreta estava em estado tão deplorável que sua restauração teve de ser feita em praça pública no próprio lugar onde está hoje. “No deslocamento, pode danificar as placas, tem que fazer [a reforma] aqui mesmo”, disse o encarregado do serviço ao repórter Adilson Oliveira, do site Verbo on Line, em 21 de maio, enquanto os reparos eram executados.

Prefeito colocou base de segurança embaixo de rede com 88 mil volts de energia elétrica
Fotos: David da Silva - 13.jul.2021
Debaixo do perigo

Os cabos elétricos que passam sobre o Largo do Taboão conduzem 88 mil volts de energia. Partem da Subestação Milton Fornasaro, nas proximidades do Complexo Viário do Cebolão, entre as marginais Pinheiros e Tietê. Essa subestação é da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, mas a rede de transmissão que vem até Taboão da Serra é de responsabilidade da Enel, antiga Eletropaulo. 

Essa linha de transmissão de energia elétrica é sustentada por 96 torres, e alimenta a Subestação Taboão da Serra. Quando passa pelo Largo do Taboão, a linha está a seis torres do seu término. No final da década de 1990 a linha foi elevada a uma altura maior, pois a prefeitura pretendia (depois desistiu) construir uma passagem de veículos (tipo o elevado Minhocão, de SP) por cima do Largo do Taboão.

Um profissional ouvido pelo blog alerta para o perigo de alguém ficar por muito tempo exposto a cabos altamente energizados. “Não é permitido nada debaixo de rede elétrica. E a pessoa ficar parada por várias horas debaixo de 88 mil volts, não é correto”, diz.

O turno de serviço dos guardas municipais é de 12 horas contínuas.

Os campos eletromagnéticos das linhas de transmissão de energia elétrica são um risco concreto à saúde.

Uma sentença da Justiça de São Paulo contra a Eletropaulo trouxe à tona que, além do perigo de acidentes com o rompimento de cabos, as linhas de transmissão podem ter efeitos cancerígenos quando as emissões são superiores a um microtesla (densidade do fluxo magnético formado pela corrente elétrica que passa pelos cabos).

Dose dupla: base de segurança está no cruzamento de oleoduto com gasoduto
Foto: David da Silva - 13.jul.2021

Em cima do perigo

Por baixo do local onde a base de segurança está instalada passam dois dutos de 14 polegadas cada um que transportam combustíveis entre os municípios de São Caetano do Sul e Barueri. É o Obati – acrônimo de Oleoduto Barueri-Utinga que serpenteia por 50 km debaixo da terra.

Quando faz sua passagem subterrânea pelo Largo do Taboão, o Obati já atravessou os municípios de São Caetano, Santo André, São Bernardo e São Paulo, e segue por Osasco e Barueri.

Construído em 1974, esse oleoduto cruza 232 ruas e avenidas e 36 córregos e rios.

Nas duas extremidades do Largo do Taboão por onde passam os dutos há placas da Petrobras e da Comgás (Companhia de Gás de São Paulo) alertando para os riscos de incêndio e de explosão.

A Transpetro (Petrobras Transportes) estabelece que na faixa em cima dos dutos “não é permitido qualquer tipo de obra (mesmo que provisória) sem a autorização e o acompanhamento das equipes da Transpetro”, sendo também vedado o uso dessa faixa para estacionar veículos. A funilaria e a pintura da carreta foram executadas durante 23 dias – de 19 de maio a 10 de junho – em cima do oleoduto, além dos serviços de serralheria, encanamento, instalação elétrica e escavação proibida no local.

Ao fundo da imagem homem faz escavação
Foto: Adilson Oliveira | Verbo on Line - 21.mai.2021

Na tarde de ontem, às 15h12 o blog enviou e-mail à Secretaria de Comunicação da gestão Aprígio; não obteve resposta até o momento desta publicação.

* Com a colaboração de Eddie Ferraz

Em vermelho, rede de transmissão elétrica e oleoduto. A carreta da GCM está no local apontado pela seta

2 comentários:

Adriano disse...

Que pedido do começo da reforma até sua instalação para os profissionais que alí ficam. Bela matéria

Unknown disse...

Essa tal carreta foi maquiada pela gestão Aprígio para fingir que é base da GCM e os caras ainda estacionam numa área com risco de explosão? Como são péssimos, incompetência pura.