David da Silva
“Confiei no curso porque a divulgação foi feita na
sala de aula da minha filha, e o folheto da propaganda veio dentro da agenda
escolar dela”, afirma a mãe de uma aluna da Escola Municipal de Ensino
Fundamental (EMEF) Heitor Villa Lobos, no bairro Kuabara, em Taboão da Serra,
que denunciou à polícia um “curso de bombeiro-mirim” do qual foi vítima. Além
dessa unidade de ensino, os divulgadores estiveram em uma EMEF no Parque
Pinheiros. Em ambas, além do acesso direto aos alunos, fizeram dinâmica de grupo
com as crianças.
As
matrículas e os uniformes de “bombeirinhos” foram pagos, mas o curso não teve
início na data firmada no contrato, e o local das aulas foi modificado por
várias vezes.
Amanhã,
6ª-feira (20), a munícipe vai ao 1º Distrito Policial de Taboão da Serra
representar o Boletim de Ocorrência que registrou na Delegacia Eletrônica. “Vou
levar toda a documentação que eu tenho até o momento, para virar queixa-crime.
Vou judicializar civilmente a Prefeitura de Taboão, a UniFecaf e a empresa que
me vendeu o curso. Todas vão compor o polo da ação”, informa a moradora de 37
anos que pede à reportagem: “Quero sigilo com nossos dados. Afinal não sabemos
quem são esses indivíduos”.
Em
vídeos de divulgação, os treinadores usam linguagem militaresca, chamam as
crianças entre 4 e 7 anos de “recrutas”, e se autodenominam BPM (Batalhão Pequeno Militar).
Um
grupo de pais e mães já expôs o assunto à secretária Municipal de Educação
Dirce Takano: “Tivemos uma reunião com a secretária Dirce em 20 de setembro de
2023, uma 4ª-feira, às 10h da manhã. Infelizmente eles alegam que não têm
convênio com esta empesa, e que não é responsabilidade deles”.
As
tentativas de levar o caso a Aprígio não deram certo. “Semana passada, tentei
novamente contato com o prefeito, porém, a assessoria dele me barrou”, reclama
a moradora.
Nos
três boletins de ocorrência a que o blog teve acesso, registrados nos dias 18,
19 e 20 do mês passado, a faculdade UniFecaf consta como local dos fatos de
estelionato atribuído à BPM Cursos e Treinamentos Ltda. e à Apoio Educacional
São Carlos Ltda., de Cristiane Carvalho Maciel e Pedro Ivo Riga Blanco,
respectivamente.
Segundo o grupo de whatsapp criado para troca de denúncias, os vendedores do curso também entraram nas escolas EMI Bidu, EMEF Maria Alice Borges Ghion, EMEF Oscar Ramos Arantes, e a já citada, Heitor Villa Lobos.
Sem rumo
A
empresa anunciou que os cursos teriam início em 02.set.2023 dentro das
instalações da UniFecaf. “Fiquei encantada. Como mãe, amei o fato de que minha
filha faria um curso em uma faculdade com aquela estrutura. Conheço a faculdade
e me senti segura fechando o contrato com eles. E até mesmo por ter recebido o panfleto
vindo de dentro da escola da prefeitura, um local que eu sempre considerei
seguro”, diz a mãe de duas meninas.
Em
11 de setembro, as famílias receberam comunicado de mudança de local. “Tomamos
conhecimento de que uma concorrente [Brigadista Mirim] estará realizando
atividades no mesmo edifício [da UniFecaf]”, diz a mensagem do grupo
identificado no whatsapp como BPM30-Taboão da Serra M01.
O
novo local das aulas seria a escola de idiomas Maple Bear, na Rua das Camélias,
a poucos metros da Prefeitura de Taboão da Serra.
Dois
dias depois, nova justificativa: “A escola Maple Bear não tem disponibilidade
para todos os sábados, 6 meses para eles é muito tempo”, diz o comunicado do “BPM30”
postado em 13.set.2023.
A
empresa chega a sugerir aos pais das crianças que as aulas poderiam ser feitas
ao relento, “em um dos belos parques públicos de Taboão”.
Segundo
os organizadores, o curso teve início em 16.set.2023 nas dependências do
Colégio Anglo Santa Rosa, na Rua Salvador Peluso Basile, Jardim Santa Rosa,
Taboão da Serra. O segundo dia de aula teria ocorrido no mesmo local em
23.set.2023.
A reportagem enviou e-mail e mensagem por whatsapp à direção do colégio, mas não teve confirmação até o momento se as aulas estão, de fato, acontecendo. O espaço segue aberto.
Mãos atadas
Também
pelo whatsapp, a UniFecaf disse aos reclamantes que “[a vendedora do curso de
bombeiro-mirim] iam locar uma sala aqui, que acabou nem sendo locada”, escreveu
Marcel Gama, CEO da faculdade. Mas, o evento de fato aconteceu. “Foram cinco
horários. Eu fui no horário das 13h. Uma mãe tirou foto da palestra com o
bombeiro Gabriel Araújo Pontes na UniFecaf”, relata. Os pagamentos dos uniformes
(R$ 200 à vista; R$ 300 a prazo) foram feitos em nome do palestrante. O recibo
das matrículas (R$ 500 à vista; R$ 900 a prazo) saiu em nome da Êxito Centro
Educacional.
Ao
discordarem das constantes mudanças de datas e locais, várias famílias optaram por
rescindir o contrato. “Nos sentimos coagidas e de mãos atadas. O senhor Pedro
Ivo se nega a devolver o dinheiro. Para cancelar a matrícula, ele exige mais R$
200,00 de taxa de cancelamento”.
Ao encerrar a entrevista, a mãe faz nova denúncia: “Em uma das salas da EMEF
Heitor Villa Lobos, a professora saiu da sala, e deixou as crianças sozinhas com os indivíduos".
Um comentário:
Quando pensamos que já vimos de tudo em matéria de destruição do ambiente escolar me aparecem com esse golpe para arrancar dinheiro dos país? Esse desgoverno Aprígio é o pior.
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