quarta-feira, 3 de julho de 2024

As marcas de Baranowski na história do Taboão

Leo Baranowski

David da Silva

Não era uma 2ª-feira qualquer. Naquele 03.julho.1961, Léo Baranowski se naturalizou cidadão brasileiro. No mesmo dia, o Congresso Nacional prorrogava a Lei do Inquilinato, assunto de interesse do senhor Léo, dono da primeira imobiliária a se instalar em Taboão da Serra.

Léo sempre foi um apóstolo da emancipação municipal.

Veio para cá em 1941, quando Taboão ainda era um bairro de Santo Amaro. Estava com 29 anos de idade (nascera a 14.fevereiro.1912, em Kiev). Abriu seu escritório no Largo do Taboão, e foi morar na chácara Canarinho (no futuro bairro Jd Maria Rosa) longe das olarias, carvoarias e lavouras japonesas do vale do Pirajuçara.

Era ali no Largo que os ideais fermentavam.

As vastas extensões de terras ocupadas por chácaras em Taboão fatalmente se tornariam loteamentos com o avanço da urbanização. Léo e sua imobiliária estavam prontos para o progresso.

Implantou vários empreendimentos como o bairro Pq Assunção, e negociou a doação de uma área com 2 mil m² para construir a Prefeitura de Taboão no lugar onde ela está até hoje.

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Antes de o jovem Léo chegar por aqui, os jornais antigos já davam conta das suas atividades.

A página 59 do Diário Oficial da União de 22.março.1939 registra que, formado em química, Léo montava uma empresa deste ramo com seus parentes Christopher Antonovich Baranowski, Jorge Baranowski e Nicolau Baranowski.


Léo e seu irmão Nicolau Baranowski em 1976

A família Baranowski deixou a Ucrânia com Léo ainda menino de 13 anos, em junho de 1925.

Vinte e cinco anos depois, Léo era um dos mais ardorosos defensores da ideia de fundar o novo município. Em 1950, criou a Sociedade Amigos do Taboão.

Em 2 de dezembro daquele ano, o Diário de Notícias informava que desembarcaram de um voo da Air France procedentes de Paris alguns passageiros ilustres, dentre eles Léo Baranowski. Era um cidadão do mundo, mas amava seu vilarejo.

“Em 1953, fizemos a primeira campanha para a autonomia de Taboão. Tentamos aproveitar a lei que permitia a criação de novos municípios a cada cinco anos”, contou ele em uma das suas muitas entrevistas sobre o período heróico.

Apesar do empenho de Léo e seus companheiros, as autoridades estaduais julgaram que Taboão ainda não estava maduro para virar município. Seria necessário esperar por mais cinco anos para uma nova investida. “Mas conquistamos o direito de ter cartório de registro civil, subdelegacia de polícia e ginásio [escolar]”, lembrava com orgulho.

Cincos anos depois, na casa do sogro do Léo foi criada a Comissão Pró-Emancipação, a legendária Comissão dos Nove Emancipadores. “Era uma linda manhã de 6ª-feira, dia 25.janeiro.1958, e [hoje] perguntam se teria valido a pena o trabalho todo, a luta e a criação do município. Respondo com toda a convicção deste taboanense com 47 anos de vida e trabalho no Taboão da Serra que valeu, sem dúvida alguma!”, escreveu em 1988 num artigo de jornal que passou para a história como A Carta do Emancipador.

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Na tradição epistolar do personagem bíblico que escrevia aos gálatas, aos efésios, aos filipenses, Léo gostava de escrever aos taboanenses narrando as peripécias emancipadoras. “A luta foi árdua em todas as frentes, principalmente contra os que queriam, traiçoeiramente, transformar o Taboão em mero anexo do Município do Embu, ainda a ser criado naquela época”.

Em 02.outubro.1959, Léo Baranowski pegou a caneta para descrever o clima da nossa primeira eleição municipal: “Desde janeiro, os eleitores de Taboão começaram a se congregar em partidos, instalar diretórios, indicar candidatos. Como é agradável ver todo este reboliço”.

Retrato falado

Regina Sudaia mora a poucos passos da casa onde Léo Baranowski viveu por 55 anos. “Fui amiga de infância e de adolescência da filha dele, a Anita. Ficávamos comendo doces e frutas sentadas num banco debaixo da sombra de um coqueiro, na chácara onde duas das filhas dele moram até hoje”, relembra.

O nome do Léo está na escritura da casa dos pais da Regina, pois foi ele quem empreendeu a transformação das terras do sogro em loteamento que deu origem ao bairro Maria Rosa, para onde a família Sudaia mudou-se em março de 1959, quando Regina tinha 10 meses de vida.

Um episódio muito romântico marcou a juventude de Regina naquele lugar: “A Anita gostava de andar a cavalo pelo quarteirão. Ela namorava um piloto que tinha um avião monomotor, e certa ocasião ele despejou lá do céu uma chuva de pétalas de rosas sobre a casa dela”.

A professora Sandra Lima descreve com traços nítidos a figura de Léo Baranowski: “Era alto, forte, rosto quadrado, olhos claros. Tinha uma fala bastante audível, vocabulário rico. Com certeza na juventude ele foi um homem belo”.

Quando Sandra Lima foi secretária do presidente da Câmara de Vereadores de Taboão, Léo ia visitá-la todas as manhãs. “Me lembro que ele falava muito em melhorar o transporte público. Era por volta de 1985-1986, e já naquela época o senhor Léo vivia insistindo para agendar uma visita dos vereadores na Assembleia Legislativa para tratar do metrô para nossa cidade. Era um visionário”.

O ex-vereador Paulo Felix não economiza ao ressaltar a presença do Léo na história municipal: “Em todas as sessões da Câmara, o seu Léo estava lá sentado na primeira fila. Já com idade avançada. Nos intervalos das sessões, ele chamava a gente, como se fosse um técnico de futebol: ‘olha, vocês deveriam fazer assim, fazer assado’... Ele nos dava conselhos nas elaborações das leis. Uma vez da tribuna eu falei que o seu Léo Baranowski deveria ganhar remuneração igual aos vereadores. Ele era mais assíduo e mais atento, mais interessado nos projetos do que alguns vereadores que eu conheci”.

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Quando partiu aos 84 anos, o honorável senhor Léo Baranowski deixou seis netos, quatro bisnetos e as quatro filhas que teve com dona Nair.

Hoje, faz exatamente 63 anos que ele ganhou a sua cidadania brasileira.

Dia 12 do mês que vem, vai fazer 28 anos que foi levado embora por um câncer no intestino.

3 comentários:

Anônimo disse...

Chama a atenção não ter nenhuma rua ou avenida na cidade com o nome dele.

Anônimo disse...

Fiquei muito feliz em conhecer um pouco mais sobre a história de Taboão da Serra e agradeço imensamente a você David por divulgá-la. Infelizmente o nosso município ainda não possui um local (museu) onde possamos encontrar materiais (jornais, documentos, objetos, etc.) sobre a nossa história.

Anônimo disse...

Belíssima matéria!
Lamento a falta de consideração.