terça-feira, 13 de novembro de 2007

O amigo “mutcho loco” de Noel Rosa

Para Orivaldo Vicentine


Entre suas muitas doideiras, Henrique Brito inventou o violão elétrico, sem receber nenhum centavo pela criação

Juntamente com Noel Rosa, o violonista Henrique Brito foi um dos fundadores do Bando de Tangarás – do qual também faziam parte João de Barro (o Braguinha) e Almirante. Todos os músicos do conjunto tinham como apelido o nome de um pássaro – já que tangará é um passarinho típico do nordeste brasileiro. Como Henrique vivia dia e noite agarrado ao seu instrumento, os amigos não lhe imaginaram outro apelido senão Violão. Noel foi parceiro de Henrique Brito na canção “Queixumes”, de 1929.
Henrique Brito (15.jul.1908-11.dez.1935) nasceu em Natal (RN). Em 1920, o governador potiguar Antonio José de Melo e Souza foi ouvi-lo no Teatro Carlos Gomes, na sua cidade natal. Ficou abismado com o virtuosismo de Henrique ao violão, e resolveu manda-lo estudar no Rio de Janeiro, com todas as despesas pagas.
Porém, o rapaz não tinha o menor ânimo pela escola. Sua paixão era a música.
Henrique era um morenão forte, troncudo, e vivia em constante agitação. Não tinha a menor cerimônia, qualquer fosse o lugar ou a situação. Onde estivesse, exigia, esbaforido, que mantivessem abertas todas as portas e janelas:
- Ufa, que calor. Não pode ser, não! Abre! Abre tudo! Tô sufocado! Ar! Quero ar! – dizia em frases telegráficas, com rapidez estonteante.
O violonista era tão desligado do mundo que, certa feita, em um intervalo do seu programa na Rádio Clube do Brasil, onde executava solos de violão, o compositor Almirante pediu para falar com ele ao telefone.
- Alô. Ah!, Almirante? Até logo. – e simplesmente desligou o telefone, sem perguntar ao amigo o que ele queria.
A maneira atrapalhada de agir de Henrique quase o mandou à prisão. Durante uma excursão com colegas do colégio, descobriram na mata uma cabana abandonada. Dentro dela, a um canto, uma arma toda enferrujada.
- Vou me matar! – gritou Henrique, e puxou o gatilho com o cano colado à fronte.
Sucedeu-se apenas um estalido seco. Os amigos mal tiveram tempo de refazer-se do susto, e Henrique apontou a velha garrucha para o peito de um amigo de nome Jacob.
- Vou te matar! – E, infelizmente, a arma disparou, estraçalhando o peito do rapaz.
Graças à intervenção dos colegas, a Polícia convenceu-se que havia sido uma brincadeira com final funesto.
Nem com isto Henrique adotou modos mais comedidos.
Em 1932, o Brasil enviou uma delegação para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos EUA. Também foi enviada uma banda para animar os atletas, a Brazilian Olympic Band. Dentre os músicos escalados, Henrique Brito.
A Olimpíada terminou, e todos acomodaram-se no navio para a volta ao Brasil. Na hora de levantar âncora, Henrique Brito disse aos amigos que esquecera o violão em um boteco do cais do porto. Desceu, e não voltou mais a bordo. Por cerca de um ano, ficou perambulando pelos EUA, tocando violão e escapando da polícia de imigração.
Quando voltou ao Rio, trazia debaixo do braço um violão elétrico. Há tempos Henrique queixava-se da baixa potência do som do violão comum. Sugeriu a vários técnicos eletrônicos brasileiros, que acoplassem um amplificador de som às cordas do violão. Ninguém lhe deu ouvidos.
Por isto, enquanto se aventurava pelos EUA, Henrique expôs sua idéia a um fabricante de instrumentos musicais de San Francisco. O industrial seguiu o projeto de Henrique, patenteou-o, e limitou-se a dar-lhe como presente o primeiro violão elétrico da História.
- Por que você não registrou este invento, Henrique? Você poderia ficar rico!!! – criticavam-lhe os amigos.
Mas, Henrique mostrava-se satisfeito pelo simples fato de seu violão tocar com o som alto...
Morreu repentinamente aos 27 anos, vítima de septecimia.

No Youtube, você assiste a um vídeo com Henrique Brito (sentado à esquerda de Noel Rosa) em uma apresentação do Bando de Tangarás. Clique aqui:
http://br.youtube.com/watch?v=26GAxh6_aKI&feature=PlayList&p=429476AE950F78AA&index=0

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