segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A parte pobre de New York, nas telas dos Oito

No início dos anos 1900, surgiu nos Estados Unidos um grupo de pintores rompidos com o bom-mocismo da época.
As cidades norte-americanas estavam em plena explosão de desenvolvimento - se entupiam de fábricas, escritórios e todo o tipo de comércio. E as pessoas que trabalhavam nestes locais, certamente não habitavam os lugares “bonitos”. Foi para mostrar como vivia esta gente humilde, que um pequeno grupo de artistas mudou o alvo de suas telas de pintura.
Conhecidos como o Grupo dos Oito, levaram suas tintas e seus pincéis para as ruas transversais, mergulharam em becos e vielas da periferia. Mostraram o lado escuro das cidades, mas também retrataram toda a vitalidade que brotava daqueles subúrbios sofridos.
A primeira exposição destes trabalhos foi realizada em 1908 – daí o nome do grupo, reforçado pelo fato de serem também oito homens.
Deste grupo fazia parte o pintor John Sloan.
Das telas de John Sloan, emergem os subúrbios com tudo o que eles têm de áspero e macio, sombrio e jubilante. “Para mim, a cidade é uma tela cosmopolita, cujo espectro muda a cada rua lateral”, dizia o pintor. “A periferia pode ser sórdida ou feliz, triste ou humana, depende do que você quer fazer nela ou dela”.
Assim é que ele perenizou pela Arte uma singela mãe de família a estender roupas sobre a laje de sua casa fustigada pelo sol e pelo vento (pintura de 1915); pintou em 1906 a pujança de uma estação de metrô na correria das seis horas da tarde (click sobre as telas para ampliar).
John French Sloan nasceu em 2 de agosto de 1871, na Pennsylvania. Seu pai era comerciante, e sua mãe, professora. Seu primeiro emprego foi como ilustrador de jornal. Fez curso noturno na Academia de Belas Artes da Filadélfia. Ali encontrou o mestre Robert Henri, inspirador do Grupo dos Oito.
Nos seus últimos anos de vida, John Sloan passou os verões pintando em Massachussets, e em Santa Fé, no Novo México.
Durante o tempo em que viveu em Nova York, Sloan gostava de freqüentar o McSorley’s Bar, que pintou em 1912.
Este boteco funciona até hoje; é o mais antigo de Nova York. Ainda mantém o chão coberto de feno, como há 154 anos. 
Diariamente vende centenas de litros de cerveja clara ou escura, ambas na pressão e fabricadas pela própria casa.O McSorley's Old Ale House foi aberto pelo irlandês John McSorley em 1854. Na época, havia 2.400 bares em Nova York. O patriarca McSorley morreu em 1910, aos 87 anos. Em seu lugar ficou seu filho Bill, que vendeu a propriedade em 1936. De lá para cá, a casa teve sucessivos donos, mas todos irlandeses ou descendentes.
Somente em 1970 foi permitida a entrada de mulheres no McSorley’s Bar. E mesmo assim, depois da decisão da Suprema Corte.
O famoso boteco fica na Sétima Avenida. Por suas mesas e balcões já passaram trabalhadores de baixa renda, empresários, mendigos, professoras, prostitutas. E também ladrões e candidatos a cargos políticos, o que dá no mesmo...
O maior patrimônio do MacSorley’s Bar é a sua história. E as histórias de seus fregueses. Antes de partirem para a luta na Guerra Civil Americana (1861-1865) os soldados bebiam ali, e deixavam pendurado um bracelete a ser removido por eles mesmos no regresso. Muitos não voltaram, e os braceletes estão ali até hoje, pendurados no lustre, sem ninguém jamais ter tocado neles.

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