terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Íntimas e Bêbadas (midraxe hagadá)

Por Marco Pezão

Paula e Andressa cursaram juntas o colegial. Amizade intensa brotou em comunhão. Embora tenham escolhido faculdades diferentes, ambas prestaram o cursinho e optaram pela mesma universidade. Desde essa época tornaram-se cúmplices quanto aos direitos feminis e politicamente exerciam pensamentos esquerdistas, sempre almejando uma revolução; a tomada do poder em prol dos menos favorecidos.
Terminados os estudos, Paula formou-se em Sociologia e Andressa diplomou-se em Direito Criminal. Devido às dificuldades de emprego imediato resolveram lecionar, conseguindo algumas aulas em uma escola na zona leste da capital paulista.
Um dia, num barzinho de classe média, em Pinheiros, conheceram dois amigos também professores. O relacionamento entre os casais acalentou enorme paixão. Depois de certo tempo, noite de sábado, quando reunidos na mesma curtição, como normalmente faziam, o duplo pedido de casamento fez crescer ainda mais o sentimento mútuo.
O consentimento veio selado por beijos apaixonados, porém, uma ressalva ficou esclarecida. Elas exigiam que, ao menos uma vez por mês, teriam liberdade de encontrarem-se sozinhas, resguardando, assim, o direito de mulheres livres e independentes.
O dúplice matrimônio não demorou acontecer, sem pompas maiores. Após a viagem de lua de mel, o prosseguimento das atividades e o bom relacionamento constante davam mostras de planejamento familiar. Os filhos viriam quando a situação econômica estivesse mais sólida.
Passado um ano de feliz convivência e respeito, Paula e Andressa mantiveram o combinado. Com regularidade percorriam a cidade paulistana indo a bairros longínquos, sempre com atenção voltada ao desenvolvimento.
Em certas ocasiões, porém, o empobrecimento que tomou conta da periferia as deprimia. Então, em algum bar distante, desabafavam toda sorte de críticas à sociedade dominante e à política de globalização.
Mas, na maioria das vezes, bebiam pela alegria de viver, e pela felicidade encontrada cada qual em seu marido, que, até então, respeitavam o pacto adquirido. Não sem sentirem uma ponta de ciúmes, pois, claro, tratava-se de duas belas e fogosas mulheres.
Definitivamente, não havia sombra de leviandades nas atitudes. Elas empunhavam a bandeira feminista, sem deixar de serem femininas, e, com certeza, adoravam tomar casualmente um pileque. Um dia, a trajetória às levou para as bandas da Vila Formosa. Por prazer ou depressão, não se sabe, o fato é que as duas exageraram nas cervejas e caipirinhas. As horas passaram e ao se darem conta, os ponteiros do relógio marcavam meia-noite.
Andressa, se dizendo mais sóbria, assumiu o volante do carro. Dez minutos depois, a irresistível vontade de urinar às incomodou em desespero. Decidiram estacionar e aí perceberam que estavam à frente do maior cemitério de São Paulo.
Íntimas e bêbadas caminharam até um portão, ocasionalmente entreaberto. Na escuridão plena, ao lado de um túmulo, desaguaram. Andressa, ao terminar, usou a própria calcinha para se enxugar e limpar os respingos que atingiram as coxas.
Paula, de cócoras, demorou mais no ato e viu a amiga jogar fora a calcinha usada. Sorriu zonza olhando a própria lingerie, lembrando que o esposo adorava essa peça, presenteada por ele.
Então, sobre o mausoléu, pegou uma fita da coroa de flores e secou-se. Abraçadas e desajeitadas foram embora...
No desenrole aconteceu o seguinte. Cedo, por volta das 8 horas, os maridos, enlouquecidos, conversaram ao telefone:
- Alô, Agenor! Pô, acabei! Pô, acabou meu casamento! Andressa chegou em casa de madrugada, embriagada e sem calcinha!
- E eu Carlão, e eu Carlão? A Paula me aparece às duas horas da manhã, com uma faixa presa na bunda escrita assim: Jamais te esqueceremos. João, Paulo, Lucas e toda a turma da faculdade! Cara, não deu pra segurar, quebrei ela de porrada!

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