terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O meu dia do Samba

Por Tiago Trombini*

Dia de criança, dia de natal, dia de aniversário, dia de carnaval
Dia de mãe, de pai, dia de santo, dia que passa
Dia de tristeza, dia de alegria, dia de graça

Não lembro exatamente o dia em que o Samba entrou em minha vida. Se é que o Samba entra na vida de alguém. Creio que o samba é algo que está presente na alma de cada brasileiro, (independente da sua etnicidade, localização geográfica ou condição social) e em dado momento é despertado por algo superior e aquele que se deixa levar por essa força provará um sentimento especial que me faltam palavras para explicar.
Digo isto porque em meu caso, o Samba simplesmente “apareceu” em mim, sem explicação.
Nascido em 1983, em São Paulo, Zona Leste, Casa de Saúde de Vila Matilde, criado em Itaquera, descendente de italianos por parte de pai e baianos por parte de mãe.
Herdei dos avós maternos o catolicismo fervoroso e dos paternos a paixão por “reuniões festivas”. Um pé na igreja e outro no salão, sagrado e profano.
Na minha infância, meu pai nunca botou um vinil de Samba na vitrola, em casa a trilha sonora era muita música sertaneja e nas festas dos Trombini muito de Bee gees, Credence, Jovem Guarda e por aí vai.
Meu avô materno, um negro baiano, esbelto, cheio de elegância que tinha toda a “pinta” de sambista, dizia que Samba não era de Deus e não deixava minha mãe e minhas tias ouvirem no rádio os Sambas da Clara Nunes (Vai entender!). Incentivado por ele participo do coral da igreja desde pequenininho até os dias de hoje e aprofundado na minha fé, sei que a vontade de Deus é ver o povo feliz, e particularmente, não há maior felicidade do que o povo que se deixa levar pelo Samba. É como Martinho já disse: É coisa de Deus!
Se seguisse o desejo do meu pai, formaria uma dupla sertaneja com o meu irmão mais velho. Seríamos o Diogo e Tiago ou o Tiago e Diogo, não sei.
Mas sou sambista! Por quê? Não sei. Só sei que aos 14 anos de idade (como cantou Paulinho) pedi para o meu pai não uma viola, mas um cavaquinho e anos depois comprei um cd (e não Lp) do Cartola em uma promoção. Vi que ali cabia um mundo de coisas que não existiam em lugar nenhum, pelo menos no meu mundo. Aquilo virou minha mente e o Samba foi despertado em meu interior.
Aquele foi o meu dia do Samba e de lá pra cá, todos os dias são dias de Samba, porque o Samba está em mim e em cada brasileiro que se deixa levar por essa tal “magia”.

Dizem que não tenho cara de sambista,
mas o Samba não tem cara.
Dizem que o Samba nasceu na Bahia ou no Rio de Janeiro,
mas o Samba não “nasceu”.
Dizem que o Samba vai morrer,
mas o que não nasceu não morre.
Dizem que o dia do Samba é 02 de Dezembro,
mas esse dia é um dia de calendário
(importante por sinal),
Pois dia do Samba é igual dia de mãe,
deve ser comemorado, respeitado e vivido todos os dias.

Salve o Samba!


Tiago Trombini é compositor; integra o conjunto Em Nome do Samba.

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