segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Evoé, jovens sambistas!



Na sua canção Paratodos, Chico Buarque faz a louvação aos paradigmas da música brasileira. E emenda uma saudação aos novos talentos, com o grito festivo da Roma Antiga para evocar Baco, deus do vinho, da folia e prazeres conexos.

Pego emprestado o verso do imenso compositor, para adaptá-lo na felicitação que nosso boteco fictício dirige ao jovem grupo de sambistas que assisti na tarde de ontem.

Eu estava obedecendo à intimação feita pelo meu amigo-irmão Aloísio Nogueira Alves: “David, meu filho Rafael vai se apresentar com uns amigos não sei quando nem onde, e não faço a menor idéia de que horas começa. Dá pra você ir?”. Com tanta precisão assim, lógico que eu iria!

Rafael se agarrou ao cavaquinho há cerca de cinco anos. Toda mão que eu ligava pra casa do Aloísio, o fundo musical da nossa conversa-mole era o moleque pinicando as cordas do pequenino instrumento agigantado por Waldir Azevedo. É comovente a gente ver um menino escapar são e salvo da saraivada de músicas alienantes com que o Império tenta abater a juventude brasileira.

O domingo que para mim começou medíocre, foi salvo no minuto que me deparei com quatro rapazes e uma garota recém saídos da adolescência, mas que trazem nas mãos e na voz a sabedoria do Samba.

A herança dos sambistas imortais

Na porta da sala da apresentação, três velhos lúbricos olhavam para uma bela morena meio que ajoelhadinha na cadeira com um microfone na mão. Aloísio, Zé Luis e eu poderíamos dizer à formosa cantora: “Do batente desta porta, 150 anos de boemia te contemplam”. Também não seria estranho o trio grisalho expressar com samba seu assanhamento: ”Sinto abalada minha calma / Embriagada minh’alma / Efeito da sua sedução”. Mas foi Natália, no frescor dos 21 anos, quem abriu o mini-show desfiando com meiguice Meu Drama (Senhora Tentação) de Silas de Oliveira e Joaquim Laurindo.

A partir dalí, por cerca de uma hora a atmosfera da sala ficou tomada por nomes eternos: Nelson Cavaquinho, Pedro Caetano, Adoniram Barbosa, Cartola, Dorival Caymmi...

O espírito da Velha Guarda inundou a sala para os jovens entoarem com reverência Esta Melodia, de Jamelão e Bubu da Portela.

A voz encantadora de Natália esteve lindamente emoldurada pelo cavaco brejeiro e bem disposto de Rafael, e a elegância do violão de baixaria de Wesley –o mitológico Dino das 7 Cordas passeou com gosto pelos dedos deste jovem músico.

Compositores imortais desceram do Olimpo do Samba e se debruçaram sobre aquela casa do bairro Pacaembu. O nome da rua já deu a dica que o Samba ganhou um novo horizonte aplainado pela garganta de Natália; o cavaquinho de Rafael, 22 anos; o pandeiro de Bruno, 23; o rebolo de Thiago, 22, e o violão de 7 cordas de Wesley, 21.

Evoé, jovens sambistas!

4 comentários:

Ricardo Ramos disse...

Parabéns pela matéria! Eles tocam em um bar?É público? Gostaria de ve-los, pis sou apreciador de samba de boa qualidade.

Um Abraço!

. gabrielisonfire . disse...

Valorizo um convite para ver o grupo! Já fucei grande parte do blog... muito bom!

Abrazz!

Anônimo disse...

Olá meu amigo, parabens pela matéria desde já fico no aguardo de um convite. É muito bom ler suas coisas tem sempre um toque original assim como você e são relatos unicos com uma assinatura inconfundivel.
Um grande abraço do seu velho amigo MOHAMAD.

David da Silva disse...

Meu grande considerado Mohamad, sempre generoso nas palavras com que brindas nossa amizade! A cerveja que vc ia tomar comigo no final de dezembro já chocou. Providencie outra!!!
Gabriel: você é dos meus. Na próxima apresentação, vc vai junto.
Ricardo: como vc já percebeu, o Rafael é quase um sobrinho meu. A agenda desta rapaziada vai passar sempre aqui pelo boteco. Abraço, e obrigado pela consideração!