sexta-feira, 20 de março de 2009

Em obediência a monsieur Baudelaire

“Se eu fosse um bicho,
gostaria de ser uma girafa,
pois o pescoço comprido
prolongaria o prazer de sentir a bebida
rolando garganta abaixo”
Vinícius de Moraes

Tem um boboca que vez ou outra me manda e-mails desaforados. Certamente é um dos cambonos do alcaide. Só que o infeliz não serve pra ser embaixador em missão de esculacho. Nas suas sempre mal traçadas linhas, o sicário municipal só me xinga de “drogado e bêbado”. Ele só acertou 50% da definição. E como somente metade dos pontos não aprova ninguém, ele será sempre “um estrangeiro nas fronteiras deste bar” como diz o célebre tango.
Em homenagem aos meus colegas de copo e de cruz, findo esta 6ª-feira brindando-lhes com uma do Baudelaire.
Eu estava embrahmando com o
Marco Pezão na última 3ª-feira, quando ele sacou, ali no pé do balcão, às vésperas das doze badaladas noturnas, dois ou três poemas do incomparável Charles-Pierre Baudelaire. Gigante da literatura francesa e mundial, em apenas 46 anos de vida Baudelaire deixou uma obra eterna.
A ele, pois. EMBRIAGUEM-SE

Charles Baudelaire

É preciso estar sempre embriagado.
Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê?
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto,
a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar,
pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala,
pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:
"É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns David, belas palavras, crei que achele exdrulo não entenderá.

Abraços

M.A

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Beleza, David

Esse poema está entre os meus preferidos...

Envio uma citação do nosso companheiro de copo e de cruz:

"O homem que só bebe água tem algum segredo que pretende ocultar dos seus semelhantes"

Grande Baudelaire

Abraço

Marco Pezão