segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Crumb? Não. Eu vou de Siqueira.

Mês que vem o aclamado cartunista norte-americano Robert Crumb lançará sua versão de Gênesis para história em quadrinhos.
Tá atrasado.
O desenhista brasileiro Anderson Siqueira já está há meses no mercado com duas versões bíblicas quadrinizadas. O Evangelho segundo Siqueira e a Bíblia Infantil em Quadrinhos têm texto da jornalista taboanense Ana Paula Medeiros.
Na 6ª-feira li entrevista de Crumb onde ele diz não ter desejado “tirar sarro” do livro original. Isto, vindo da boca de um demolidor de conceitos pequeno-burgueses, me soa... como direi?... capitulação?... peso dos anos?...
Iconoclasta do estilo de vida americano, o cartunista completou 66 anos em 30 de agosto último. Talvez por isso tenha desenhado um Deus convencional: “patriarca de barba branca e expressão severa”, como o próprio Crumb define.
Já meu amigo Anderson Siqueira só vai festejar 43 anos no próximo final de outubro. Está ainda com a ponta do lápis bastante dura para travar boas brigas com Jeová, esta divindade fantástica, ciumenta, irritadiça, vingativa.
Anderson está atualmente mergulhado em desenhar todo o Velho Testamento, e não apenas o Gênesis, como Crumb.
Eu a Eva de Crumb: ancas largas, cabelão preto, seios cheios. Uma latina apetitosa, pelo que entendi.
Mas estou mesmo é na expectativa das beldades bíblicas que vão sair da costela, quer dizer, da caneta do Siqueira. A bonitaça Betsabá que pirou o rei judeu meu xará. A gostosíssima Judith que fez um general perder a cabeça – literalmente.
Robert Crumb admite que se limitou a “ilustrador” do Gênesis. Já Anderson Siqueira é um esplêndido escarafunchador das Escrituras. Desenhista com pendores de arqueólogo. Procura rastos à margem e além do caminho sinalizado. Apesar de não ser um livro autoral, vai entregar a encomenda devidamente tatuada. Como a passagem da grande fome em Jerusalém onde a mãe de família vai reclamar ao rei: “Meu senhor soberano. Ontem comemos meu filho na janta. Hoje a vizinha não quer dar o filho dela pra gente comer no almoço”.
Vou visitar, é lógico, o Gênesis de Crumb. Trata-se de um dos maiores nomes do quadrinho universal. Mas meu Jardim do Éden da leitura, meu Paraíso do prazer estético está jorrando da caneta nanquim do sempre surpreendente Anderson Siqueira Simoni.
(o segundo sobrenome dele termina com “e”. Mas alterei a grafia pra ficar parecido com o de seu suposto antepassado famoso)

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