quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Conexão interrompida

Meditações perante uma blondi tyttö no metrô da Finlândia
Para José Eduardo Menck Nicoletti

Um dia antes do fato que vou narrar, eu tinha ido com o Zé Eduardo a uma loja de ferragens na zona oeste de Helsinki. Fomos comprar um martelo (em finlandês: vasarahinta) e pregos (em finlandês: naulojen). Um cortador-de-unhas (kynsileikkuri) também. Correu tudo nos conformes. Com exceção que, ao sairmos da loja, tomamos direção totalmente oposta ao bairro Puotila, onde estávamos alojados. Salvou-nos uma suave senhora suomen (isto é: finlandesa, na língua lá deles).
No dia seguinte fiquei sem fósforos. Falei pro Zé Eduardo: “Quem está 12 mil km longe do seu país, vai a uma loja e volta são e salvo com um vasarahinta na mão e um pacote de naulojen no bolso, pode perfeitamente sair pra comprar fósforos, nénão?”. Pedimos à intérprete Saara Siddiqui que pussese no papel como se diz caixa-de-fósforos em finlandês: tulitikkurasia.
Como o metrô lá é de graça pra quem participa da Helsinki Cup, esticamos até o centro.
O metrô da capital da Finlândia é só uma linha, com pouco mais de 20 km. Sai da estação Ruoholahti, e na estação Itäkeskus se abre em “Y”: um ramal vai para Melunmäki; outro, para Vuossari.
O metrô de lá dificilmente anda lotado. Suas 17 estações movimentam apenas 140 mil pessoas por dia. Em São Paulo, a estação Sé, sozinha, arrasta 80 mil passageiros/dia.
Mas naquela 2ª-feira 6 de julho, o trem estava lotado. Delegações de atletas, turistas e repórteres do mundo todo invadem Helsinki no verão europeu.

No balanço do trem
Na estação Rautatientori, em pé próximo à porta vi na outra extremidade do vagão entrar uma loira (blondi tyttö, como dizem). Quase balzaquiana: 27-28, por aí. O trem lotado não me permitia avaliar o material todo inteiro. Mulheres de Helsinki geralmente têm rostos bonitos. Mas, também geralmente têm traseiros tímidos, tristinhos até. “E se essa for diferente?”, torci. Lá veio ela bambeando pro lado onde eu estava. Bem vestida, roupa recatada, mas um tanto tonta de álcool. “Deve ter abusado no happy-hour com as colegas”, pensei. “Ou terá enchido a cara porque o namorado (poikaystävä) dela deu-lhe um pé na aasi?”, me animei.
Parou rente. O balanço do vagão e a dose industrial que ela bebeu, ajudaram na aproximação. Antes da sua voz chegar ao meu ouvido, seu hálito contou pro meu nariz que tinha bebido vodka. “Where you from?”, ela disse. A jaqueta que eu usava trazia uma bandeira brasileira tão eloquente que rimos. Ela falou mais alguma coisa num inglês engrolado. Cadê do monoglota suburbano aqui entender porra de nada? Ô espêto!
Mulher na Finlândia tem a maior moral. Foi o primeiro país do mundo a dar direito de voto a elas. Foi também onde se elegeram em 1907 as primeiras deputadas da Europa. A presidência da República da Finlândia é ocupada por uma mulher. 20% dos mais altos cargos públicos da Finlândia são das mulheres. Vai devagar, malandro.
A blondi tyttö continuou tropeçando na língua, zanzando do inglês pro finlandês. A Finlândia tem dois idiomas oficiais: o seu próprio e o sueco. Todas as placas indicativas lá são bilíngues. E todo mundo ali fala inglês. Se eu encostar muito, ela vai manjar por baixo do zíper da minha calça meu entusiasmo pela confraternização dos povos...
Eu fingia entender o que a doçura nórdica dizia. Ainda se eu falasse a língua dos anjos... Como decifrar o que vinha daquela beleza escandinava? No Egito, Jeová deu uma força a Moisés: “Vai, e Eu serei com a tua boca e Te ensinarei o que hás de falar”. Deus meu, por que me abandonaste?
A cada estação, o que saía de gente, entrava. Ô apêrto bom... Como seria o contôrno dela da cintura pra baixo? Imaginei-a na consistência exata de uma banhista de Renoir.
Na Finlândia há campeonato nacional de carregamento de mulheres. Se o cabra levar nas costas sua musa por 250 metros numa pista com barreiras, incluindo fosso com água, o prêmio é o peso dela em cerveja. Pai, afasta de mim este cálice!
Na estação Sörnäinen premeditei a estilingada pra abater aquela ave noturna. Tinha aprendido pelo menos dizer prazer em conhecê-la: Moi! Hauska tutustua!!! Dias antes num rolê por Sörnäinen ví uns botequinhos aprumados. “Só mesmo bêbada pra essa mina dar brecha prum feio feito eu”. A porta do metrô abriu. “Vou chamá-la pra uma cerveja saideira”. (Haluatko juoda olutta?) Quando ia abrir a boca, a porta do trem fechou. A coragem evaporou.
Pelas estações seguintes, fui matutando novas ciladas verbais. Qual abracadabra me abrirá a formosa fortaleza de 1,70m?
Em Itäkeskus, num arranco, a blondi tyttö saltou do trem quando o sinal sonoro já avisava a partida. Senti ganas de gritar “go here!”. Pelo vidro da porta do vagão, pude ver o latifúndio que a moça carregava logo abaixo dos seus cabelos loiros longos...

5 comentários:

BAGDASAMBA disse...

Acho que voce tava sonhando e devia ta dormindo com o Massagista Negrão do lado ein rapaz, onde ja se viu uma loira num trem da Finlandia>>> Primeiro na finlandia não tem loira, ninguem bebe, e voce conhece aquela musica Lola, voce anda se animando com qualquer visão hein ainda acho que era um sonho, depois de trinta dias vendo só ze cueca na frente, da dessas deformidades sonambuloscas, e o bafo do Negrao é que te deixou iludido, ve se te apruma e conta a verdade, aposto que voce acordou cheio de pasta de dente na mão não é !!!!!!!!


bagda

David da Silva disse...

Oh, Bagdá... Que será de ti?

Anônimo disse...

Mano, magoei...onde ja se viu colocar um negrão no sonho de Ícaro, quer dizer de David, Vamos aos fatos:06/07 era apenas o quinto dia da aventura e não o trigégimo, a finlândia é a terra das loiras sim, inclusive das geladas como a "Lepin kulten", agora quanto a pasta só quem é especialista pode pode afimar!
Por falar nisso desce mais uma loira que ja tô com a guela sêca!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Mano desculpe-me olha eu aqui esquecendo o nome da danada e olha que eu só tomei uma hoje, o nome da cerveja é Lapin kulta que significa "Ouro da Lapônia" imagina se eu estivesse pra lá de Bagdá? alah...

Anônimo disse...

David
Este teu amigo Bagdá está pra lá de Bagdá. scandinávia é a terra das loiras e a Finlândia tem loira a rodo. Este lance da bebida na Finlândia é verdade mesmo. Fala pro Bagdá ler isto: http://www.propagandasembebida.org.br/not_home/not_home_integra.php?id=136
Rodrigo, SJ Rio Preto (SP)