sexta-feira, 19 de março de 2010

Seu berço foi o lupanar

Em janeiro quando vi Lula e Dilma em Araçuaí, nas Minas Gerais, maldei logo: “Tá parecendo um alcoviteiro e sua quenga”. Lula não poderia ter escolhido lugar melhor para rufianismo político-eleitoreiro. Araçuaí foi fundada dentro de um puteiro.
Antes de seguir, deixa explicar pros mais jovens o título da postagem:
Lupanar vem do latim lupus = lobo. No caso, loba.
As putas da Roma Antiga rondavam à noite pelos arredores da cidade. E imitavam uivos de loba, pra clientela saber onde elas estavam no meio daquele breu.
Vam’bora.
Araçuaí, a 678 km a nordeste de Belo Horizonte, teve como berço de sua fundação um acampamento de prostitutas às margens do rio que dá nome ao município. Fica pra cima de Teófilo Otoni... Montes Claros... na banda de lá da Serra do Espinhaço... no Vale do Jequitinhonha.
Antes de ancorarem os chibius naquela beira d’água, as “meninas” exerciam seu ofício na Aldeia do Pontal, lugarejo fundado por um padre filho de poderoso dono de terras e de gentes da região. Corria o ano de 1817.
Certo dia, padre Carlos Pereira Freire de Moura acordou endiabrado. Proibiu todo mundo de beber cachaça. E expulsou as vadias da aldeia. Tristes, murchinhas, as meretrizes lá se foram pisando barro e mato nas barrancas do Rio Araçuaí acima. Tempos depois, chegaram estropiadas na Fazenda Boa Vista da Barra do Pontal. A dona do pedaço era Luciana Teixeira, uma das desbravadoras daquele sertão mineiro. A fazendeira ficou com dó das quengas. Deixou que elas armassem suas tendinhas na margem direita do Ribeirão Calhau com o Rio Araçuaí. E lá ficaram com suas vergonhas abertas pro lado da correnteza do rio. Esperando...
Enquanto isto, os canoeiros que traziam mercadorias da Bahia praquela parte de Minas, paravam suas embarcações na Aldeia do Pontal. Depois da dura briga com as águas, queriam cachaça pra lavar a alma, e o calor dos braços e vãos das pernas das raparigas. Mas... “Quedê as piranhas? Ôxente! Deix’esse padréco aí. Vâmo simbora pra donde elas tão!”. E lá se foram também eles rio acima, atrás do bem-bom.
O acampamento cresceu muito com os canoeiros no vai-e-vem do rio e das coxas das rampeiras. Logo alguns comerciantes foram se instalando em volta do lupanar de dona Luciana.
Até que em 21 de setembro de 1871, aquele imenso bordel ganhou nome de cidade.
Araçuaí chegou a ser a capital de todo o Nordeste de Minas Gerais. Por ali passava a estrada de ferro Bahia & Minas. Mas, a partir da década de 1940 os tropeiros e os canoeiros mudaram de rumo, a ferrovia fechou, e Araçuaí conheceu o declínio. Como se fosse uma velha pistoleira cansada de guerra.
A ascensão e queda de Araçuaí você lê
aqui. Veja também algumas fotos do local.
Pode ser que um dia esta cidade volte aos seus tempos de glória. É só ter a coragem de peitar os trancos do mundo, como fizeram aquelas valentes mulheres de vida (nada) fácil.

2 comentários:

Fernando Marinho disse...

davi ,essa história lado "b" é muito interessante e muito bem contada por você.esse texto merece realmente entrar para os anais da história.

Anônimo disse...

Oiii Davi...o seu blog esta muito bom!!!
Gostoso de ler,com uma linguagem despachada e altamente informativa.
Ha tempos eu não o visitava e acabei colocando todos os bafos em dia.
Parabens!
Vera Jorge