quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Descabelado, confuso e entupido de dólares

Fazia um friozinho chato no aeroporto de New York naquele abril de 1971. O violonista e compositor Baden Powell faria ali uma conexão no vôo que o trazia de Tokyo.
De repente, como num dos seus improvisos fantásticos ao violão, ele resolveu visitar o amigo Sivuca, que na época trabalhava em New York com Miriam Makeba, cantora sul africana. Sivuca havia sido colega de Baden quando tocavam juntos em bailes cariocas na década de 1950. O violonista queria ficar um ou dois dias com o velho amigo.
“Como é que eu faço pra pegar minha bagagem e trocar a passagem?”, se perguntava Baden Powell, que não sabia uma vírgula em inglês. Um dos guardas do aeroporto ficou de olho naquele moreno todo descabelado (ventava no JFK), com um casacão que lhe descia até os calcanhares. Quando o policial se aproximou, Baden enfiou a mão no bolso do casaco, para apresentar-lhe o passaporte. Ao invés do documento, o que saiu do casaco imenso foi uma montoeira de dólares. Quanto mais Baden fuçava nos bolsos em busca do bendito passaporte, mais lhe saiam notas de dólares. Dezesseis mil dólares, se você quer saber... “Te peguei, ladrão!”, vibrou o meganha.
Tiveram de chamar uma pessoa do FBI que entendesse português. Baden explicou que aquela pacoteira de grana era parte de um cachê de 30 mil dólares que acabara de receber no Japão – Baden só gravava disco se pintasse grana viva, nada de cheque, e tudo à vista. “Tá aqui o recibo!”, disse o músico trinfante. Mas... o recibo estava escrito... em japonês. Toca os “hômi” irem atrás de quem sabia a língua nipônica. O policial de olhos puxados lê o recibo, balança a cabeça, tudo certo, é isso mesmo, Baden liberado...