Kaká, o vendedor de frutas - Foto: David da Silva - 27.dez.2010 |
Geralmente
vejo Kaká nas noites altas do boteco Fecha-Nunca no Largo do Campo Limpo. Engraçado é
que Kaká nunca “está”. Explico: ele está sempre indo ou voltando:
“Fui
vender lá no Rio Pequeno”, se a passada pelo bar é à boca da noite.
Se
a madrugada avança:
“Tô
indo agora vender lá na Vila Madalena”.
Se
não vai (ou não foi) vender, a parada no boteco também é ligeira:
“Tô indo lá ver minha filha na casa da mãe dela”.
Cada
frase arrematada com o bordão:
“Comigo
é pau-no-gato!”.
Na
carroceria da camionete azul a paisagem lembra Clarice Lispector: “maçãs
vermelhas, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, uvas
pretas que mal podem esperar pelo instante de serem esmagadas, uma talhada
vermelha de melancia com seus alegres caroços. Tudo cortado pela acidez
espanhola que se adivinha nos limões”.
E
pau-no-gato!
Na
carteira de identidade Kaká é José Ricardo Rodrigues de Farias. Nascido no
distrito Venda Nova, Belo Horizonte, em 29 de abril de 1969. Signo de touro –
forte, batalhador, pé no chão. Dona Maria José Gomes se mandou pra São Paulo
com Kaká, então com sete anos, e mais quatro filhos. Fincaram
residência no Jardim Olinda, região do Campo Limpo, zona sul de Sampa. Do pai
Luciano Rodrigues de Farias, Kaká não tem notícias: “Não conheci meu pai. Eu tinha vontade de conhecer ele”, diz com uma ponta de tristeza na voz.
A
entrada de Kaká no ramo de frutas não foi como vendedor. Muito menos como
comprador. “Eu catava restos das frutas com meus irmãos debaixo das bancas da
feira do Parque Ypê. A gente não tinha o que comer em casa”, conta.
Mais
grandinho, Kaká se virou vendendo limão. “Vendia limão na mão. Não tinha
caixote pra pôr em cima. E pau-no-gato! Eu vendia assim, ó”, e empalma na mão o
monte imaginário de limões.
Ao
ver o esforço do moleque, o feirante japonês Luiz ofereceu emprego. “Eu vendia
limão, mas tinha de continuar pedindo esmola, porque vendia muito pouquinho. Aí
o japonês ficou com dó de mim”, lembra Kaká.
Depois
de anos como empregado, foi vender por conta própria. Quase quebrou. Chegou a
passar no exigente teste de um grande hipermercado. Ia ser chefe do setor de horti-fruti... Mas prefere a
vida solta das ruas.
Para
as donas de casa, a venda diurna de porta em porta. Para os boêmios, a
refrescância das frutas anti-ressaca vendidas nas madrugadas de boteco em boteco.
E
pau-no-gato!~
Kaká
Frutas Selecionadas
Fones:
9369-0492 e 8534-5499
2 comentários:
Meu caro amigo David: um feliz Ano Novo pra você e toda sua família. Por favor, no próximo ano continue perfilando essas figuras que só você acha. Esse Kaká é figuraça pelo jeito.
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Ô, Matheus!
Também te desejo um 2011 com muita saúde, e muitas pautas boas pela frente.
Parabéns pelo prêmio que vc recebeu pelo trabalho na Zigu.
Você é o perfeito "amigo leal" que o Adelino e o Nelsão cantaram.
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