terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Quando Darwin deu um rolê pelo Brasil

A Companhia de Teatro Encena fará na quinta-feira, 16 de dezembro, a leitura dramática da peça O Canto dos Canários Cegos, sobre a passagem do cientista Charles Darwin pelo Brasil. O inglês ficou encantado com as nossas belezas naturais, mas partiu horrorizado com os maus tratos contra os escravos africanos no país.

Charles Robert Darwin
 Charles Darwin tinha 23 anos quando desembarcou no Brasil em 1832. Estava a bordo do navio HMS Beagle, no qual viajou por quatro anos colhendo materiais que transformou décadas depois na sua Teoria da Evolução das Espécies.
O naturalista inglês ficou em nosso país de 28 de fevereiro a 5 de julho de 1832. No retorno à Inglaterra em 1836, depois de um longo giro pelo mundo Darwin passou por Recife (PE). Esta temporada brasileira aprofundou sua disposição de lutar contra a escravidão.
O rapaz já tinha convicções abolicionistas. Antes mesmo de pisar na Bahia, onde o HMS Beagle aportou pela primeira vez, Darwin teve um tremendo bate-boca com o capitão, que insistia em usar escravos na expedição. O oficial chegou a expulsá-lo do navio, mas voltou atrás.
No Rio de Janeiro, Darwin ficou hospedado em uma casa no bairro de Botafogo, quase ao pé do morro do Corcovado. Diz ele em seu diário:
  “(...) No Rio de Janeiro, morei em frente de uma velha senhora que possuía parafusos para comprimir os dedos de suas escravas. Estive numa casa onde um jovem mulato sofria, diariamente e a cada hora, aviltamentos, castigos e perseguições suficientes para despedaçar o espírito mesmo do animal mais desgraçado.”
Ainda na capital do Rio, outra cena medonha. Um dono de escravos mandou um negrinho de seis ou sete anos dar água a Darwin. A criança levou duas violentas chicotadas na cabecinha nua, só por que o copo não estava bem limpo...
Fazendo em Maricá (RJ) onde Darwin se hospedou, perto de um
quilombo arrasado pelas autoridades. Ao fundo, a escarpa de granito
onde uma velha negra se suicidou para não voltar às correntes.
Perto da lagoa de Maricá, também no Rio, Charles Darwin se escandalizou ao ver as ruínas de um quilombo destroçado pelo governo. O massacre havia se dado em 1825, mas ainda se contavam lances dolorosos do ocorrido. Uma negra idosa se jogou do alto de um penhasco, preferindo a morte a voltar à miséria da senzala. “Praticado por uma matrona romana esse ato seria interpretado e difundido como amor à liberdade. Mas, da parte de uma pobre negra, se limitaram a dizer que não passou de um gesto de pessoa bruta.”, escreveu Darwin.
Em agosto de 1836, já de volta para a Inglaterra, Darwin teve tempo de vivenciar novos horrores, desta vez em Pernambuco. Passeando de barco por um mangue de Recife, ele ouviu gritos angustiados de um negro torturado em uma propriedade próxima.
Também lhe causou imensa aversão saber que um escravo negro cortou a própria língua, depois que seus donos furaram-lhe os olhos para que cantasse melhor, como faziam com canários...
Trecho de manuscrito de Darwin durante sua visita ao Brasil
A imagem do Brasil ficou tatuada na mente de Charles Darwin como “terra de escravidão e, portanto, de aviltamento moral”.
 “(...) No dia 19 de agosto de 1836 deixamos finalmente as costas do Brasil. Dou graças a Deus, e espero nunca mais visitar um país de escravos. (...)”

DARWIN E O CANTO DOS CANÁRIOS CEGOS
De: Murilo Dias César.
Com: Orias Elias, Débora Muniz, Jacintho Camarotto e Walter Lins. Direção: Orias Elias
16 de dezembro (5ª-feira) – 20h30
Entrada Franca
Espaço Cultural Encena
R. Sargento Estanislau Custódio, 130
Jd. Jussara – Butantã
Contato/Reservas/Informações:
8336-0546 c/ Flávia D’Álima
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