domingo, 10 de março de 2013

A arte zapatista de Tico Finkennauer

O grafiteiro Tico Finkennauer. Foto: David da Silva - 10.mar.2013
David da Silva

Na coluna central da porta do bar do Sarau do Binho, o personagem me encarava por trás da máscara.
Depois revi o mascarado reproduzido em vários muros da cidade.
Tico Finkennauer é um dos grafiteiros mais famosos da região, nascido e criado em Taboão da Serra. Foto: David da Silva - 10.mar.2013
Principalmente nas quebradas do Parque Pinheiros. “O ninho deste cara deve ser por aqui”, eu matutava.
Logo constatei. Carlos Alberto Finkennauer Neto é o nome composto e algo solene do grafiteiro Tico. Morador do Parque Pinheiros onde nasceu em 11 de janeiro de 1984.

Assim como sua arte de rua é uma explosão de cores, nas veias de Tico Finkennauer correm sangues de variados matizes.
Neto de alemão com índia, filho de paulista com goiana, Tico é dos poucos artistas do ar livre que tem personagens fixos. Além do mascarado, suas marcas são um flamingo e um pelicano.


Arte e atitude
Tico Finkennauer botou máscara em seu personagem central como símbolo da postura de “fazer mais e falar menos”.
O mascarado pode se manifestar na forma de uma criança ou de um idoso. De um bandoleiro ou um portador de deficiência física.

O mascaradinho fez sua estreia triunfal em 2007, em um muro da Rua Hortênsia Albuquerque Orlandino, onde Tico morava com seu pai funcionário de transportadora e sua mãe metalúrgica da Keiko. Hoje ele mora e se banca sozinho com a sua arte.
A máscara é também uma homenagem aos guerrilheiros do Exército Zapatista, que lutam no sul do México.
Foto: Divulgação
Tico começou pela pichação nos idos de 1998-99, quando estudava na Escola Lúcia de Castro Bueno.
Depois migrou para a arte grafite.
Mas não aceita comercializar seu talento. Se for convidado para pintar a fachada de algum imóvel, não faz desenho por encomenda. Pinta apenas o que sua consciência manda.
Foto: Divulgação
Se for pra pagar comida e aluguel, prefere trabalhar em outra coisa. Para não submeter seu dom artístico ao capital.
Já encarou trampo de caixa de supermercado, telemarketing, e outras paradas duras.
Mas na sua lata de spray, só ele dá ordens.
“Vivo dentro das minhas possibilidades. Vivo sem ostentação”, é sua filosofia cotidiana.

Valorização da periferia
“As pessoas andam sempre desatentas à paisagem à sua volta. Daí quando a gente pinta um muro, deixa ele bonito, as pessoas passam a reparar naquilo”, define o artista. 
Apesar de preferir paredes e muros como suporte de sua obra, Tico Finkennauer também se liga na pintura de tela dos nomes consagrados. Gosta particularmente do surrealista Salvador Dali.
Foto: Divulgação
Quem vê sua aparência meio rude, algo desleixada, não imagina que o grafiteiro curte MPB, gosta de Elis Regina, samba de raiz e, é claro, o reggae.

A única cara feia que o sempre humorado Tico Finkennauer fez durante a entrevista, foi quando perguntei do funk pankadão que motoristas aloprados tocam em som agressivo pelas ruas.
“É o tipo da música que influencia as crianças a não estudar. Estimula o jovem a querer ostentar carrão, relógio de grife, cordão de ouro. Eu repugno este tipo de som. Que nem é funk. Funk de verdade é James Brown, Tim Maia. Eu repugno o pankadão. Eles tocam assim pra afundar e destruir a periferia”.
O mascarado assume várias formas em suas manifestações de rua
Foto: David da Silva

2 comentários:

Carlos Finkennauer disse...

Não por ser meu Filho,mais o talento é indiscutivél.

Vitoria Santos disse...

O cara é foda e eu achei isso só pelo talento agora que li essa enquete sobre ele e seu pensamento e caracter reforçou minha certeza de que ele é foda para crlh❤❤❤