domingo, 10 de março de 2013

Gerações de tubistas renovam-se em Taboão da Serra

O tubista José Renato. Foto: David da Silva – 09.nov.2010

Dona Magna vivia preocupada com a mania do filho José Renato se enfiar na frente da televisão a tarde toda, depois da escola. “Quer treinar judô, filho?”, sugeria com sutileza. Nada feito. A mãe apelava para o óbvio: “Renato... vai jogar bola!”. O moleque nem se mexia.

Foi daí que a vizinha Marlene botou fim na preguiça do menino. Voltando do seu trabalho na Escola Estadual Antonio Inácio Maciel, na mesma avenida ela viu o entra e sai na Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que em 2003 funcionava no local conhecido por Cepim, no Jardim Maria Rosa. “Tá assim de crianças lá aprendendo música”, contou Marlene para a esperançosa amiga Magna. “Vai aprender música, Zé Renato!!!”. Quem disse que o pirralho de 12 anos se animou? Ela que não grudasse na mão do garoto pra ver se ele ia sozinho se inscrever...
Dez anos depois, o nome de José Renato Alexandre Siqueira figura no elenco da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, e na Orquestra Sinfônica Jovem Municipal de Guarulhos. Formado bacharel em música no final de 2012, pela Faculdade Integrada Cantareira. O que não é pouco para um rapaz taboanense que ainda vai fazer 22 anos daqui a uma semana, no próximo dia 19 de março.

“Aquele bemol bonito...”

O método revolucionário do maestro Edison Ferreira do Nascimento consiste em deixar que a própria criança escolha seu instrumento. Mas no primeiro dia de aula, enquanto os coleguinhas apontavam o que queriam tocar, Renato ficou esparramadão diante da TV.
No dia seguinte, foi no embalo da maioria que havia escolhido o trompete. O maestro não entrega imediatamente o instrumento ao aluno. Dá apenas o bocal, para treinar a emissão do ar entre os lábios cerrados, fazendo-os vibrar (técnica conhecida por “abelhinha” pois reproduz som semelhante a um zumbido). Dois ou três dias depois de testar a embocadura, a criança vai soprar o instrumento. Renato: pffiiiii... Desprezado pelo trompete, tentou a sorte no trombone. Outra decepção.
“Daí me mostraram uma tuba, e eu enchi os olhos com aquele instrumento grandão, todo prateado”, relembra o músico, ainda carregando na retina o brilho daquela paixão instantânea. “E quando eu fui soprar na tuba pela primeira vez, já saiu aquele si bemol bonito”, conta com gosto.
Maestro Edison Ferreira e Zé Renato – Foto: David da Silva

Escala rápida

Entrevista com Renato vira imediatamente aula sobre a história da tuba. O cara tem o dom de ensinar. Em poucos minutos fiz uma viagem desde 1835, quando o antepassado mais remoto da tuba se chamava serpentão. Passamos pelas modernizações do instrumento rebatizado de hélicon, souzaphone, e outros que tais. Mas o que prevalece é o velho e bom nome tuba (do latim = tubo, cilindro de ar).
Aos 15 anos de idade Renato já estava na Escola Municipal de Música de São Paulo. Lá teve o primeiro semestre de aulas com o afamado tubista Dráuzio Chagas, o popular Boi. Que por coincidência também mora em Taboão da Serra, onde Renato nasceu e vive. Mais fantástico ainda é o fato de o mestre Dráuzio e o jovem musicista Renato residirem no mesmo bairro Parque Pinheiros. Mas o destino só os uniu na escola da capital paulista.
Subindo rapidamente no aprendizado da tuba, Renato conta hoje em seu currículo com mestres da alta estirpe como Luiz Ricardo Serralheiro (Popô) e Marcos dos Anjos, tubista solo da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

Talentos novos e antigos

À parte seu dom pedagógico, algo me indica que Renato irá mesmo seguir a carreira de intérprete. Sua próxima meta é prestar concurso para a Academia da OSESP.
E logo a campânula de sua tuba vai se igualar à dos seus ídolos.

A geografia urbana já mostrou que, numa mesma cidade e até num mesmo bairro, é possível surgir duas gerações de executores de um instrumento que exige um apuro técnico e preparo físico pouco acima do normal.
A poucos metros da casa de Renato, no bairro Parque Pinheiros, Taboão da Serra, reside um dos maiores nomes da tuba no Brasil.
O professor Dráuzio Chagas, o Boi, integrou a OSESP, a orquestra do Theatro Municipal de São Paulo e a Jazz Sinfônica.
Sua tuba aparece em importantes discos da MPB com Milton Nascimento, Toquinho Vinícius, Caetano Veloso e no revolucionário álbum Tubarões Voadores, de Arrigo Barnabé.
Professor Dráuzio Chagas durante uma de suas aulas

6 comentários:

Ariel Souza disse...

Agora que mostraram umas das jóias que existem aqui em Taboão é uma crueldade não nos deixarem apreciar.

Que tal uma apresentação?

Roberta Regina disse...

José Renato, ou apenas Zé para os mais íntimos! (: Tenho grande orgulho desse meu grande amigo. É um verdadeiro exemplo de dedicação. Tive o prazer de conhecê-lo há alguns anos atrás no Músicos do Futuro e sempre foi um grande incentivador. Lembro-me quando nos encontrávamos no mesmo ônibus às 5h30 da manhã a caminho da faculdade, eu com o violoncelo e ele com a boa e velha tuba! Os outros passageiros queriam nos matar haha Parabéns Zé! Tudo de melhor na sua vida (: Beijão, Rô!

Unknown disse...

David muito obrigado! Minha curta e singela história ficou muito bonita em suas palavras.
Espero um dia dominar as notas musicais do jeito que você domina as palavras, e tornar minha música tão atraente ao ouvinte como é seu texto aos leitores.
Obrigado

Unknown disse...

Que orgulho e presentão no dia do seu aniversário para a sua família Renatinho!!!

Professor Fenólio disse...

David, a boa semente cai em terra fértil e produz frutos como o Zé Renato. Parabéns ao maestro Edson e aos que araram e fertilizaram a terra.

Unknown disse...

Grande Zé!!! Toca muito.